Economista fala em “otimismo cauteloso”

data 20 de março de 2024
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Crédito: Caroline Stinghen

Fernando Honorato Barbosa falou para jaraguaenses durante encontro empresarial na Acijs.

O bom desempenho externo, com crescimento da balança comercial, controle da inflação e os reflexos da queda de juros internacionais, pode favorecer a economia do Brasil e abrir oportunidade de novos investimentos de capital externo.
O quadro de estabilidade não deve sofrer a ameaça de uma nova crise no cenário local, mas é preciso que medidas como o ajuste fiscal e o controle de gastos na gestão pública sejam eficazes para que o país melhore sua imagem junto às agências de análises de riscos.
A percepção de que o Brasil pode avançar em um novo período de desenvolvimento marcou a fala do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, ao definir o momento do Brasil como de “otimismo cauteloso” durante o Encontro Empresarial Acijs, realizado segunda-feira, no Centro Empresarial de Jaraguá do Sul.
A palestra “Perspectivas econômicas para 2024” marcou a retomada da série mensal de encontros que a entidade promove com o propósito de debater temas da conjuntura nacional e estadual, direcionando pautas de interesse do setor produtivo ou alinhadas às demandas da comunidade, como infraestrutura, segurança pública e educação, entre outros temas.
Na análise, Fernando Honorato pontuou aspectos do cenário internacional que de algum modo refletem a realidade brasileira. Segundo ele, o mundo passa por uma desinflação, com causas e efeitos influenciados pelo desempenho de economias mais fortes, como a da China e dos Estados Unidos.
Dois pontos foram acentuados pelo economista: o processo de desaceleração de investimentos na China por conta da crise interna e de endividamento, e a queda de juros nos Estados Unidos, que podem favorecer o Brasil. “Desde a pandemia, a China vive um processo severo de desaceleração de investimentos, ao mesmo tempo em que produz mais do que consome. Vem perdendo crescimento e tem uma dependência por produtos que o Brasil exporta, como grãos e proteína animal, além do aço e do minério de ferro, o que mantém a pauta de exportações ativa. Nos EUA, medidas do Fed podem fazer os juros caírem e, com isto, o custo do capital também pode ter quedas que favorecem o custo do capital para novos investimentos e a alavancagem de negócios no Brasil”, explica Barbosa.

O economista aponta outros aspectos favoráveis que, reforça, tornam o Brasil mais resiliente no cenário global e para o dia a dia no mercado local. Além da balança comercial muito forte graças ao superávit comercial elevado, o país tem uma inflação sob controle e caindo, o que vai permitir que a taxa de juros possa alcançar patamares ainda menores e com isso melhore o crédito e a condição de custo de capital das empresas. 
“Isto traz um otimismo cauteloso para o Brasil no período 2024-2025. O Brasil consegue manter um ritmo forte de exportações que assegura um fluxo de dólares nos próximos anos e evita crises maiores. A solidez das contas externas vai ter implicações relevantes para a economia que já começa a se materializar e vai se intensificar nos próximos meses”.
Outro indicativo positivo, assinala Fernando Barbosa, vem da produção de petróleo, na qual o Brasil deve se tornar o terceiro maior produtor entre os países membros da Opep ainda nesta década. Mesmo com a influência do conflito entre Rússia e Ucrânia, o país alcançará competitividade porque por algum tempo o mundo dependerá deste insumo energético e isso possibilitará um fluxo relevante de dólares.
“A situação estável da economia brasileira, com taxa de juros menores, controle da inflação, crescimento da atividade industrial gerando maior empregabilidade e o desempenho da balança comercial, fará com que as agências de análise de riscos melhorem a percepção em relação ao país, dando uma segurança e possibilidades para pelo menos uma década de bons ventos externos”.
Fernando Barbosa reforça ainda que as reformas previdenciária e trabalhista, entre outras medidas, trouxeram resultados positivos e o crescimento da arrecadação. Também fortaleceram o PIB, mas ele lembra que ainda é preciso que o governo seja eficiente nas regras fiscais. Uma questão importante é a necessidade de que se tenha uma reforma administrativa capaz de promover maior eficiência da gestão pública e não necessariamente a economia de recursos que podem ser usados em investimentos. “A velocidade com que o governo faz o ajuste fiscal é um risco”, reitera. “O Brasil vive um déficit primário muito grande e a demora para resolver esta questão pode trazer problemas, mas é improvável uma crise enquanto o desempenho da indústria e do agronegócio, principalmente, se mantiverem fortes”.

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