Uma história de acolhimento, amor e fé

data 18 de janeiro de 2024
autor

Crédito: Marcelo Luis e Divulgação

Considerado Venerável pelo Vaticano, Padre Aloísio Sebastião Boeing segue atraindo milhares de peregrinos em busca de graças e da paz oferecida em seu espaço sagrado. Enquanto isso, religiosos seguem envolvidos no processo e sonham vê-lo se tornar um santo.

Passados mais de 17 anos de sua morte, o legado de Padre Aloísio Sebastião Boeing segue vivo não só em sua comunidade, a igreja Nossa Senhora do Rosário, em Nereu Ramos, mas em toda a cidade e municípios da região, que visitam diariamente o seu túmulo e memorial. Conhecido por operar verdadeiros milagres, há dez anos corre no Vaticano seu processo de canonização, que neste ano ganhou um novo capítulo com o seu reconhecimento como Venerável, que é quando a Igreja reconhece suas virtudes heróicas. 
O Padre Léo Heck, que hoje é diretor do instituto e vice postulador da causa, explica um pouco desse processo. “Ele morreu com fama de santidade. Ao longo de toda sua jornada na igreja fez questão de se dedicar às pessoas, acolher, aconselhar e abençoar. Há relatos de muitas vidas curadas, de gravidez cuja mãe e bebê apresentavam risco de vida e foram curados, diagnósticos de doenças que não se confirmaram…”, enumera. Por conta desses “fatos extraordinários”, no ano de 2013 a Fraternidade Mariana do Coração de Jesus e a Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus, deram entrada junto a causa dos santos o pedido para abertura do processo de beatificação e canonização.
Quando esse processo tem início, de imediato a figura do candidato a santo recebe o título de Servo de Deus. Após cuidadoso estudo de sua vida, com a comprovação das virtudes heroicas, torna-se Venerável. Só depois vem a beatificação, que depende da comprovação científica de que o milagre operado não tinha solução através da medicina; seguida da santificação, que ocorre com a comprovação de um segundo milagre. O processo pode levar muito tempo, mas a igreja não tem pressa. Creem que tudo ocorre no tempo de Deus, mas seguem lutando para dar sequência e mostrar ao mundo o quanto a fé de Aloísio e de todos aqueles que nele acreditavam era poderosa.
Ao lado da igreja onde o padre passou os últimos 23 anos do seu sacerdócio foi inaugurado em julho de 2022 o Espaço Padre Aloísio, onde o seu túmulo pode ser visitado e as pessoas depositam suas intenções. Há também um velário, um salão amplo para celebrações, a capela para confissões e um memorial que expõe a vida e obra do Venerável, assim como os objetos mais significativos de uso do padre. A casa onde ele viveu também está aberta à visitação como um verdadeiro memorial vivo e uma lanchonete e pequena loja de artigos religiosos completa o espaço.

Padre Leo Heck e Irmã Edena Maria Bittencourt encabeçam os esforços no processo de canonização do Padre Aloísio Boeing.

Irmã Edena explica que agora é possível venerar a figura do padre através da devoção pessoal, buscando sua intercessão e imitando suas virtudes. Por enquanto ainda não é possível colocar sua imagem no altar e, até mesmo, construir uma igreja usando seu nome. “Aqui está a sua raiz e o seu coração. Tem um bonito trabalho junto ao turismo religioso”, diz. Atualmente passam  pelo espaço mais de 30 mil pessoas por ano de diversas localidades do Estado, de faixas etárias diversas e com a demanda mais variada possível. O pico de movimento é nos dias 17 de cada mês, quando são celebradas três missas ao longo do dia lembrando a data da morte de Aloísio.
Ao todo, mais de 1.500 pessoas passam por lá nessas ocasiões e foi preciso até pensar em aumentar o número de missas. Padre Heck também quer incentivar a peregrinação. Hoje já existem grupos que atravessam longas distâncias caminhando para chegar até aqui, mas isso esbarra na estrutura ainda limitada da região de Nereu Ramos. “Falta uma pousada para receber os fiéis, algo simples e com valores acessíveis para oferecer conforto aos peregrinos”, relata Irmã Edena, sem descartar a ideia de que isso pode acontecer ali mesmo, anexo à estrutura do local.  No entanto, precisam do apoio do município e dos próprios empresários nesse incremento, já que também faltam restaurantes aos domingos, por exemplo, para dar um suporte a esses turistas.
Sabedores de que o processo de canonização é complexo, Padre Heck e Irmã Edena lamentam a dificuldade de poder comprovar os possíveis milagres de Padre Aloísio. “Os profissionais de saúde têm dificuldade para reconhecer a intercessão divina e na hora de assinar o laudo titubeiam e afirmam sempre haver 1% de chance de melhora ou que a cura foi resultado da medicação/tratamento. É complicado”, explica a irmã. A ética médica e talvez o receio de ter problemas com o conselho de medicina acabam travando o processo e o pedido que os religiosos fazem é simples: seguir divulgando a história do padre e rezando. Os milagres seguem acontecendo e eles não perdem a esperança de um dia receber o aval do Vaticano.  

Vida e obra de Padre Aloísio
Padre Aloísio nasceu no dia 24 de dezembro de 1913, em Vargem do Cedro, naquele tempo município de Imaruí/SC, hoje pertencente a São Martinho. Primogênito de uma família cristã, com doze anos saiu de sua terra natal com outros três colegas rumo ao sacerdócio. Após muito estudo, foi ordenado sacerdote no dia primeiro de dezembro de 1940.
Em Jaraguá do Sul, construiu o Noviciado Nossa Senhora de Fátima, na Barra do Rio Cerro, onde permaneceu de 1956 a 1976, e fundou a Fraternidade Mariana do Coração de Jesus, em 1974. Dez anos depois, Padre Aloísio foi para o bairro Nereu Ramos e ali viveu até o final de sua vida como vigário da capela Nossa Senhora do Rosário e diretor do Centro Shalom, atendendo incansavelmente a todos que o procuravam para uma orientação, auxílio e bênção. Padre Aloísio partiu serenamente no dia 17 de abril de 2006, para os braços do Pai.

Veja também

Desenvolvido por AUIN Tecnologia