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Casos de estupro, agressões e feminicídios infelizmente tem se tornado comuns em Jaraguá do Sul e colocado em cheque o título de cidade mais segura do Brasil. Segura para quem? Certamente não para as mulheres. Recentemente, uma grávida foi agredida com um chute na barriga desferido pelo ex-companheiro de sua mãe, sem contar o registro de estupro em via pública e uma série de outras situações que tiram a paz de mulheres de toda a região e as colocam em situação de vulnerabilidade, afinal, na imensa maioria dos casos, a ameaça vive sob o mesmo teto e romper com esse ciclo de violência exige, muitas vezes, abrir mão de tudo o que foi construído ao longo da vida.
Para evitar que se sintam desamparadas e encontrem abrigo e segurança, muito em breve a cidade passará a contar com a Casa Izabel, um espaço de acolhimento para que vítimas de violência doméstica possam superar suas questões e permanecer o tempo necessário para reorganizar sua vida e retornar à sociedade com um emprego fixo, moradia e empoderamento. A ideia nasceu em 2022 por iniciativa de um voluntário da Associação Beneficente Novo Amanhã, Mateus Mantovani. A Associação faz um trabalho de resgate há 25 anos, no qual se dedica ao tratamento e reabilitação de dependentes químicos em álcool e outras drogas no município, e hoje tem à frente Jusara Chrast como presidente e Mateus Mantovani como voluntário.
O projeto da Casa Izabel é fruto de parceria entre empresários, iniciativa pública, privada e voluntários, e deve ser concluído e inaugurado em 28 de agosto, oferecendo 24 vagas para mulheres de um total de 35 vagas – já que muitas vêm acompanhadas dos filhos menores. O espaço vem sendo construído no bairro Jaraguá 99 e, além de câmeras e segurança reforçada 24 horas por dia, promete um atendimento humanizado feito por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, terapeutas, assistente social, além de contar com uma sala reservada para que possam receber policiais e advogadas para cuidar dos seus casos. A respeito do planejamento terapêutico, Jusara afirma que ainda falta alinhar alguns detalhes, mas a Casa Izabel terá diferenciais importantes quando comparada a outros espaços destinados ao mesmo fim que já se encontram em operação no Estado.
“Visitamos unidades em Joinville, Itajaí e Balneário Camboriú para ver o que funciona nessas cidades e reproduzir aqui, bem como desenvolvemos pontos que poderiam ser melhorados”, conta. Em Jaraguá do Sul, o espaço contará com brinquedoteca e playground para os pequenos, jardim interno e uma horta que, além de ajudar na subsistência do espaço, servirá para ocupar o tempo livre dessas mulheres. Muitas pessoas também já estão se voluntariando para ministrar oficinas profissionalizantes e ajudar na recolocação dessas mulheres no mercado de trabalho. Recentemente, inclusive, foi aprovada lei que dá prioridade para essas vítimas de violência no momento da contratação.
O projeto, apesar de ser encabeçado por uma Organização Não Governamental (ONG), ganhou uma ótima adesão da comunidade jaraguaense como um todo. O terreno foi cedido pela prefeitura e os recursos para a construção são fruto de doações do empresariado local, reconhecido historicamente por abraçar causas importantes no município. A secional de Jaraguá do Sul da OAB Mulher também já se colocou à disposição e Jusara agora se prepara para uma reunião com a Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali) a fim de definir a questão da divisão e custeio das vagas, já que a ideia é acolher vítimas de todos os municípios da região. “Quanto à construção e estruturação da casa, tudo está encaminhado, mas temos esse ponto e ser definido, já que as mulheres terão prazo de até um ano para permanecer conosco, ficando a cargo da nossa equipe de profissionais essa avaliação”, destaca.
Agora, o foco é levar informação e dar visibilidade ao projeto, promovendo rifas e eventos para angariar recursos e explicar como os trabalhos irão funcionar, além de reforçar esse elo com a comunidade e visitar empresas e escolas explicando as formas de violência – física, psicológica, sexual, patrimonial e moral – e a necessidade de denunciar casos em que uma dessas situações esteja acontecendo. “Temos que esquecer o ditado ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’. Esse é um problema de todos nós enquanto sociedade e acredito que hoje em dia as mulheres estejam, sim, criando coragem para denunciar e buscar uma nova vida”, incentiva ela. Essa mudança de mentalidade e atitude inclusive pode ser uma das justificativas para o aumento nos casos. “Elas estão saindo do casulo, empoderando-se. Às vezes, só o que falta é entenderem que não estão sozinhas e a Casa Izabel vem justamente para isso: apoiar e dar todos os direcionamentos necessários para que possam se reconstruir e voltar à sociedade de queixo erguido”, encerra.