É inegável que ouvir uma boa música após um dia cansativo/estressante tem o seu poder. O que pouca gente sabe ou tem a curiosidade de pesquisar é sobre musicoterapia. Considerada uma disciplina na área da saúde, ela oferece um campo de atuação extremamente abrangente e tem resultados positivos comprovados cientificamente nas mais diversas situações. Os exemplos envolvem casos de Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson, dependentes químicos, bebês que precisam passar uma temporada na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e pacientes com alguma deficiência cognitiva, sensorial e emotiva, como autistas, pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e Síndrome de Down.
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Foi com esses últimos que André Brito decidiu trabalhar e a quem se dedica em sua clínica, localizada em Pomerode. Músico por formação, ele passou a se interessar pela área ao perceber que a incidência de deficiências vinha crescendo muito. A vontade de auxiliar essas pessoas esbarrou na dificuldade de formação na área no país. Segundo ele, há poucos cursos de graduação em musicoterapia no Brasil. Na região sul são oferecidos somente dois cursos: um na Faculdade Estadual do Paraná e outro na Faculdade EST, no Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina não há nenhum curso de graduação. “O que existem são cursos de pós-graduação mais acessíveis e foi em um deles que busquei conhecimento”, destaca.
Professor na Universidade Regional de Blumenau (Furb), hoje ele coordena o curso de musicoterapia – que está com matrículas abertas e dá aulas e palestras para que mais e mais pessoas se interessem pela área e possam contribuir para a melhora comunicacional, sensorial, motora e emocional de quem busca o atendimento. Hoje o foco de atuação do profissional envolve crianças na faixa etária de 1,5 ano aos seis anos de idade e o trabalho utiliza diversas técnicas para cada situação. Inicialmente é feita uma entrevista com a família e uma avaliação do paciente. Isso é o que vai determinar a abordagem utilizada na musicoterapia, assim como o tempo da consulta. “A gente tem que ir no tempo deles, então não costuma passar de 45 minutos. O importante é que a abordagem seja lúdica. As crianças precisam vir aqui para ‘brincar com o tio’ e não ter em mente que estão fazendo uma terapia”, comenta.
No consultório há mais de 100 instrumentos, brinquedos, fantoches que imitam o som de bichinhos e da natureza, bem como um mini palco improvisado. Como lida com muitos pacientes não verbais, as estratégias precisam ser variadas e muitas vezes a interação funciona com canções simples criadas de improviso que estimulam os pequenos a reproduzir o som de vogais ou palavras curtas. “Para alguns é muito difícil dizer um simples olá ou tchau e conseguimos resultados muito bons nesse sentido, trabalhando a comunicação e pequenas interações sociais”, comemora.
O resultado se reflete na família e na escola e ele se orgulha de ter casos de pacientes que chegaram até o seu consultório sem falar quase nada e que em apenas três meses passaram a verbalizar uma série de palavras. É claro que há casos mais severos, mas a musicoterapia oferece alternativas também para eles, que aprendem a responder e realizar pedidos à sua maneira. Os sons também ajudam a trabalhar a memória das crianças, a motricidade, o equilíbrio e muitas vezes o tratamento completo envolve um trabalho multidisciplinar envolvendo fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais.
Mas para além dos esforços na área da saúde, é importante que os pais e as escolas também façam sua parte. Funciona como um “dever de casa”, afinal é o cumulativo que traz grandes resultados, como um pequeno passo todos os dias em direção à evolução. “Felizmente, hoje a sociedade evoluiu e diminuíram questões como a negação e o preconceito nesses casos. A estimulação precoce também é fundamental”, salienta.
Como projeto futuro, André pretende investir na massagem sonora ou musicoterapia vibroacústica. Trata-se de uma técnica criada na Noruega que consiste em uma mesa com cordas parecidas com a de um violão na parte de baixo, usando ondas de pressão sonora associadas com músicas, com cujo objetivo é harmonizar o ser humano como um todo, desde seu estado emocional até o físico. O objetivo primeiro é relaxar, mas estudos mostram que pode ser benéfica para uma infinidade de outras condições, como a asma, dores abdominais, cólicas, afasia, autismo, dores crônicas, depressão e stress e, além de outras questões envolvendo saúde e qualidade de vida.
O musicoterapeuta lamenta apenas o fato de nem todas as pessoas que necessitam do tratamento terem acesso, já que as consultas particulares muitas vezes não cabem no orçamento das famílias e no SUS, assim como nas unidades de Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) e na Associação dos Amigos do Autista (AMA), a demanda por atendimento é muito grande e demorada. “É preciso direcionar um olhar mais atento para esse público. Mesmo os planos de saúde criam empecilhos para cobrir o tratamento, tornando burocrático algo que deveria ser primordial, que é a saúde”, desabafa.
A Clínica Integra fica na Rua Hermann Weege, 2.177 – Ribeirão Areia – Pomerode.