O Brasil tem mais de 15 mil casos notificados de suicídio anualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Para evitar que o número de casos aumente, é preciso desmistificar e conhecer as causas que levam uma pessoa ao limite do sofrimento e tire a própria vida. O risco do suicídio está ligado ao momento crítico que a pessoa está passando e que pode ser superado. Apesar da depressão estar mais associada ao ato, outros transtornos também podem levar pessoas ao limite da dor, como o bipolar, de personalidade bordeline e esquizofrenia, além de doenças físicas crônicas incapacitantes.
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A psicóloga Bárbara Couto ainda inclui as pessoas que sofrem assédio moral ou sexual nesse quadro. “E sabemos que fatores socioeconômicos, como desemprego e pobreza, podem contribuir para o evento. Também os jovens, por não terem desenvolvimento do controle emocional, podem ter uma impulsividade maior para tentarem, quando já têm pensamentos suicidas, ao enfrentarem situações difíceis, como brigas familiares, bullying, falta de apoio social, términos de relacionamentos, fracasso profissional e luto, mesmo não tendo, nem estando dentro de um transtorno psiquiátrico. Não esquecendo dos LGBTQIA+, que além do preconceito, ainda passam pelo doloroso processo de aceitação próprio e dos outros”, alerta Bárbara
Homens são mais suscetíveis ao suicídio
Segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, no Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. Bárbara Couto acredita que esse dado esteja ligado à propensão dos homens a não procurarem ajuda quando estão sofrendo. “Além disso homens cometem mais suicídio pela associação maior ao uso abusivo de álcool e drogas, que os torna mais impulsivos. Também por, culturalmente, serem mais agressivos, acabam usando meios mais letais ao tentar o suicídio, como armas de fogo, por exemplo”, explica a psicóloga.
Mitos sobre o suicídio
Por trás do ato extremo de dor há outros mitos. Entre eles de que o suicídio seja sempre uma ação impulsiva. De acordo com Bárbara Couto, na maioria das vezes, a pessoa passa pelas fases de sensação, idealização suicida e planejamento do evento. Muitos também acreditam que o suicídio é uma forma de chamar atenção. “Geralmente, a pessoa está em sofrimento extremo e acha, erroneamente claro, que esse seja o caminho para trazer alívio. Outro mito é imaginar que se perguntar a alguém se ela está pensando em se matar incentiva a cometer o ato. O questionamento pode dar abertura para a pessoa lidar e ressignificar essa dor, se sentir acolhida e buscar ajuda”, elucida ela.
E, a pessoa que pensa em suicídio dá sinais de alerta. A maioria, além de falar sobre querer morrer, se sentir inútil ou um fardo, que a vida está muito difícil e a situação insuportável, ela também muda o humor e o comportamento. “O suicida perde interesse pelas atividades que gostava e hábitos de sono e alimentares mudam. Pode ficar imprudente, com condutas que podem colocar a vida dele em risco, como beber ou usar drogas demais, dirigir em alta velocidade, entre outras. Algumas pessoas até começam a se despedir de amigos, de familiares. Outras passam a apresentar uma calma repentina depois de muito sofrimento e desespero, sinalizando que que ela tomou a decisão de tirar a própria vida”, explica Bárbara.
Como ajudar quem fala em suicídio?
Quando alguém fala sobre o desejo de tirar a própria vida, é importante levar isso a sério, não, julgar, não minimizar o sofrimento e não querer resolver o problema por ela. Deve-se escutar e entender o que essa pessoa quer dizer, mostrando empatia e compreensão. “O simples fato de ter uma escuta ativa pode ajudar a pessoa a se sentir acolhida, compreendida e, quem sabe, voltar a querer salvar a própria vida. Nesse momento, tem que incentivar a pessoa a procurar ajuda de profissional de saúde mental: psicólogo, psiquiatra. Se estiver muito perdida, é importante também não deixar essa pessoa sozinha, avisar as pessoas que moram com ela sobre a questão e tirar de casa qualquer objeto cortante, corda ou objeto que ela pode usar para tirar a própria vida. E, em caso de risco muito iminente, levar a uma emergência”, orienta a psicóloga.
A pessoa com pensamento suicida precisa entender que está precisando de ajuda e que é necessário compartilhar isso com as pessoas, além de buscar ajuda de profissional de saúde mental, como psicólogo, psiquiátrico, que são os que podem oferecer tratamento adequado. “É necessário que ela entenda que o sofrimento dela tem causa e, se tratado, pode ter fim. E ela não precisa passar por tudo isso sozinho. Se não encontra isso em pessoas próximas, pode achar grupo de apoio na internet, em comunidades. Se não tem condições de pagar pelo tratamento particular, pode procurar assistência nos serviços de saúde mental públicos no CRAS, CREAS ou Caps. Às vezes, a carga é pesada demais e não há problema algum em procurar ajuda, muito pelo contrário, é um ato de coragem e de amor próprio. Quem pensa em suicídio, na verdade não quer eliminar a própria vida, quer eliminar o sofrimento que para ela está insuportável”, finaliza Bárbara Bárbara.
Se precisar, peça ajuda
Ao apresentar sinais, é fundamental procurar ajuda de profissionais de serviços de saúde, de saúde mental, de emergência ou apoio, além de conversar com alguém em quem confie. Também é possível entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida – CVV, formado exclusivamente por voluntários, que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio gratuitamente por meio de conversa sigilosa, sem julgamentos, críticas ou comparações. O atendimento é realizado pelo telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação), chat e e-mail.
A psicóloga Bárbara Couto
Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.
Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.
Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.