A seletividade alimentar refere-se a um comportamento que envolve a preferência por um conjunto limitado de alimentos, muitas vezes resultando em umadieta restrita. Ocorre tanto em crianças quanto em adultos e é frequentemente caracterizada pela recusa em experimentar novos alimentos ou a exclusão de grupos inteiros de alimentos. Pode dar origem ao Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), condição em que podem acontecer déficits ou carências nutricionais, além de atraso no crescimento e ou desenvolvimento infantil.
É atribuída a uma série de fatores. Um dos principais é a predisposição genética, que pode fazer com que algumas pessoas sejam mais sensíveis a certos sabores, texturas ou odores e apresentem pouco apetite e interesse em comer. Tem como possíveis causas ainda condições de saúde como o autismo ou então questões emocionais como ansiedade, estresse e transtornos alimentares, por exemplo. Fatores ambientais também desempenham um papel fundamental na sua origem, como o ambiente familiar, com os alimentos oferecidos ou não pelos pais; como estes lidam com a alimentação e a rotina das refeições; experiências negativas de alimentação na infância, com alergias, intoxicação e até a ingestão forçada de certos alimentos e a cultura e região geográfica, que determinam a disponibilidade de alimentos e o hábito alimentar.
Pesquisas sugerem que a seletividade alimentar é mais prevalente em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As razões para isso são complexas, podendo incluir sensibilidades sensoriais, ansiedade social e resistência a mudanças na rotina.
É importante a distinção entre seletividade alimentar, alergia alimentar e intolerância alimentar. A alergia envolve uma reação imunológica adversa a um alimento específico, enquanto a intolerância alimentar está relacionada a uma incapacidade do corpo em digerir certos alimentos. Já a seletividade alimentar não envolve reações físicas adversas, mas sim preferências alimentares.
Entre as características estão a ingestão de alimentos apenas considerados seguros ou aceitáveis. Essas pessoas desenvolvem o hábito de comer sempre o mesmo tipo de comida, textura e tempero, o que leva a uma certa monotonia alimentar. Alegam ainda que não gostam de determinados alimentos antes mesmo de experimentá-los. Normalmente a escolha é sempre pelos mesmos tipos, determinadas marcas ou mesmo a temperatura em que serão ingeridos (frio ou quente). Possuem aversão a grupos alimentares inteiros, como frutas, vegetais ou leguminosas. Têm a sensação de angústia quando são encorajadas a experimentar alimentos diferentes, seja por causa de uma fobia ou medo de engasgar ou vomitar, e podem apresentar náusea e vômito ao se deparar com a necessidade de comer algo novo. As crianças fecham a boca para evitar de qualquer maneira a sua ingestão. Em alguns casos ocorrem até sensibilidades alimentares associadas ao excesso de determinado nutriente no organismo e isso é como resultado da não rotatividade na ingestão de alimentos.
Crianças e adolescentes com dificuldades alimentares não tratadas podem evoluir para adultos com TARE. Também é comum a ocorrência de deficiências nutricionais, uma ingestão inadequada de vitaminas e minerais essenciais e até mesmo problemas de crescimento na população pediátrica. Além disso, pode afetar a qualidade de vida, causando isolamento social e ansiedade. Por isso, é importante saber que a seletividade alimentar em adultos não é uma questão de “frescura” e vai além do que muitos chamam de “paladar infantil”. É necessário investigar e tratar para que não haja grandes restrições e sim a ingestão adequada de nutrientes, principalmente desde a infância, para assim evitar ou corrigir possíveis deficiências nutricionais.
Para evitar a seletividade alimentar em crianças é importante introduzir uma variedade de alimentos desde cedo e tornar as refeições agradáveis e livres de pressões. A amamentação é um facilitador para a aceitação de novos alimentos, já que as variações na dieta da mãe se refletem nas características sensoriais do leite materno. Assim, quanto mais variada a dieta da mãe, o paladar da criança tende a ser mais variado. É recomendado ainda que não se atrase a introdução gradual de alimentos sólidos na dieta do bebê.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, o processo de introdução da alimentação complementar deve ter início aos seis meses. Nesse período é ainda mais importante variar as formas de preparo e textura dos alimentos oferecidos, alternar entre dar comida na boca ou deixar comer sozinho, assim como oferecer os alimentos em diferentes locais da casa e deixar a criança explorá-los por conta própria. A família e os cuidadores devem prezar pelo ambiente onde a criança se alimenta. Se um ambiente é agradável e novos alimentos são oferecidos sem imposição, a criança fica muito mais disposta a desenvolver preferência por eles.
Em adultos isso pode ser desafiadora, mas abordagens semelhantes às recomendadas para crianças, como gradualmente expandir o repertório alimentar, podem ser eficazes. A busca por apoio profissional, como uma abordagem multidisciplinar com participação de nutricionista, psiquiatra ou psicólogo e clínico geral ou pediatra têm bons resultados. É importante o paciente ter a consciência dos efeitos da seletividade alimentar para a saúde e as relações sociais. Terapias comportamentais podem ser úteis, principalmente na gestão da seletividade alimentar em pessoas com TEA. E independentemente da idade, o engajamento dos familiares e o respeito pelo no processo de cada pessoa facilita o sucesso do tratamento da seletividade alimentar.
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