Quando o silêncio fala mais alto que anos de protesto

data 17 de abril de 2025

Silêncio seletivo e memória conveniente: o “desfecho” do caso Marielle

Quase uma semana após a decisão do ministro Alexandre de Moraes que colocou o deputado Chiquinho Brazão (RJ) — apontado pela própria Polícia Federal como mandante do assassinato de Marielle Franco — em prisão domiciliar, o que se ouve da militância que durante anos ecoou o bordão “Quem mandou matar Marielle?” é um sonoro nada. Nenhuma passeata, nenhum tweet indignado, nenhuma faixa nas redes. Nem um grito simbólico no Congresso. Nem mesmo a ministra Anielle Franco, irmã da vítima e ocupante de cargo de prestígio no governo Lula, soltou um “ai”.

Isso mesmo. A irmã da vereadora assassinada, alçada ao ministério justamente por sua ligação familiar com o caso, segue em silêncio constrangedor. Parece que agora a indignação tem prazo de validade — ou, quem sabe, depende de quem é o alvo.

Lula, que não perdeu a chance de surfar na comoção pública para nomear Anielle e reforçar o discurso progressista do seu governo, agora finge que o assunto nem existe. Afinal, o tal Chiquinho é um velho aliado do PT no Rio de Janeiro. Durante anos, setores da esquerda apontaram para Bolsonaro e aliados, mesmo sem provas concretas. Mas agora que o acusado está a um telefonema de distância da base governista, o caso virou um “assunto delicado”.

Detalhe importante: a decisão de colocar Brazão em casa foi justificada por “problemas de saúde”. A mesma desculpa que outros presos — geralmente opositores — não conseguem usar nem com laudo médico. A justiça brasileira, ao que tudo indica, tem um medidor de empatia proporcional à utilidade política do réu.

E o mais curioso: Anielle Franco, que já foi voz ativa, escreveu livros e participou de eventos internacionais em nome da memória da irmã, não deu nenhuma declaração pública após a prisão domiciliar do homem acusado de encomendar a morte de Marielle. A coluna até procurou. Mas… silêncio.

Memória seletiva? Indignação sob demanda? O caso Marielle sempre foi tratado com um misto de comoção e conveniência política. Agora, com o suposto mandante em casa, tornozeleira no pé e a militância quieta, o que vemos é a consagração do velho ditado: “manda quem pode, silencia quem convém”.

No fim, o caso que mobilizou o país virou um item de gaveta. Justiça? Talvez. Justiça política? Com certeza.

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