Projeto Aiy Mboaxa conecta escolas de Jaraguá do Sul às raízes indígenas da região
Noticias relacionadas
No mês do Dia dos Povos Indígenas, projeto cultural leva rodas de conversa a mais de 300 alunos e distribui 700 cartilhas educativas para promover diálogo intercultural
Com o objetivo de reconectar a comunidade às raízes indígenas da região, o projeto cultural “Aiy Mboaxa: Tradição Oral Guarani Mbya e Conexões entre Cidade e Aldeia” levará entre os dias 10 a 15 de abril, rodas de conversa a escolas municipais de Jaraguá do Sul.
Ao longo de quatro dias, serão realizadas oito rodas de conversa com a presença da liderança Guarani Mbya Sila Ara Poty Ju, vice-cacique da Aldeia Piraí, de Araquari, e uma das fundadoras da nova aldeia Karaí Ruvixa, em Jaraguá do Sul.
As atividades foram conectadas ao momento de sensibilização e estudos históricos e culturais motivados pelo Dia dos Povos Indígenas. Serão envolvidos mais 300 alunos em um ambiente de escuta, onde serão trocados saberes ancestrais sobre a cultura Guarani Mbya.
“Nossa cultura é o jeito que a gente pensa”, afirma Sila Ara Poty Ju. “Nossa presença entre os não-indígenas é importante porque a história dos nossos ancestrais foi contada de forma errada. Agora, nós contamos nossa história.”
Mais de 700 cartilhas educacionais serão distribuídas
Como forma de ampliar o alcance do projeto e garantir que o conhecimento siga circulando, serão distribuídas 700 cartilhas educativas com conteúdo sobre os Guarani Mbya, também disponibilizada em formato digital neste link.
O material reúne informações sobre a história indígena na região, palavras em Guarani e seus significados, informações sobre a cultura, proteção ambiental e a luta pelos territórios.
Escrita por Sila Ara Poty em parceria com a jornalista Natália Trentini, a cartilha também traz registros históricos pouco conhecidos: os relatos da presença indígena em Jaraguá do Sul e região antes da colonização europeia, evidências arqueológicas na região Norte de Santa Catarina e a datação do sítio Poço Grande, em Guaramirim, com mais de 380 anos.
“Como jaraguaense, sempre senti falta de ver a cultura indígena sendo considerada, ouvida e reconhecida. Vivemos em uma cidade com nome Guarani, bebemos água de um rio com nome Guarani, esses são vestígios das raízes culturais da nossa região que não são retratadas na nossa história”, comenta Natália.
Jaraguá do Sul, como tantas cidades do sul do Brasil, foi construída sobre territórios indígenas. A própria toponímia, com nomes como Jaraguá, Guaramirim e Itapocu, revela a presença histórica Guarani, ainda que pouco reconhecida. O projeto nasceu justamente deste vazio narrativo e da necessidade de dar visibilidade às culturas que sempre habitaram este território.
“Precisamos olhar para isso, vencer preconceitos e aceitar essa origem, percebo esse movimento como uma questão de retratação histórica com um povo que foi perseguido culturalmente e expulso dessas terras no processo de colonização”, completa.
As cartilhas serão entregues aos alunos participantes, professores e pontos culturais da região. “Essa é uma semente para mudar o que é ensinado sobre a gente nas escolas. Para que nossas crianças possam crescer conhecendo a história dessa terra”, complementa Sila.
Este projeto é realizado com recursos da política nacional Aldir Blanc de Fomento À Cultura – PNAB, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Jaraguá do Sul por meio da, com apoio do Ministério da Cultura e do Governo Federal do Brasil.