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Considerar cada criança em seus aspectos individuais e nas particularidades da faixa etária parece um caminho óbvio para iniciar a jornada dos pequenos na aprendizagem e convivência. No entanto, somente a Pedagogia Waldorf é capaz de transformar em prática diária essa abordagem holística do ser humano e do seu desenvolvimento. Apesar de ainda não ser muito popular no Brasil, o método conta com 1.200 escolas no país e no início deste ano ganhou uma unidade em Jaraguá do Sul graças aos esforços de um grupo de mães que atuam como voluntárias na Escola Luz do Vale.
A unidade de ensino funciona no modelo de associativismo, não possui fins lucrativos e o valor arrecadado com a mensalidade de cada estudante é usado para manter os custos de funcionamento da estrutura. Ana Vieira encabeça o projeto ao lado de Danusa de Araújo, Jaslana Carvalho e Magnólia Ramos, e as diferenças são vistas logo que o visitante atravessa o portão de entrada. No lugar da sala de aula convencional, um cenário que lembra o aconchego da “casa da vovó”. Na área externa, o parquinho também destoa, assim como os brinquedos, em geral produzidos com elementos naturais como a madeira e sem as cores chamativas que estamos acostumados a observar.
Ana Vieira explica o motivo: “a Pedagogia Waldorf utiliza 30 parâmetros para ver se a criança está pronta para iniciar a fase de alfabetização e isso inclui o desenvolvimento muscular e dos dedos, bem como o equilíbrio e a estrutura do rosto. Tudo isso é observado pelo nosso time de profissionais formado por quatro professores”. Nesse sentido, o uso de materiais com pesos e texturas diferentes e um parque de diversões que convida os pequenos a se desafiarem logo na primeira infância contribuem de modo determinante. Em resumo, os alunos são livres em um ambiente controlado e desfrutam também do contato com a natureza, podendo escalar árvores e lidar com a terra e plantas, vivendo experiências que jamais teriam no ambiente educacional que costumamos conhecer.
“Brinquedos de plástico coloridos hiper estimulam as crianças. Fora que possuem todos o mesmo peso e textura. Materiais naturais são capazes de acalentar”, reforça. As aulas da pré-escola também seguem um “currículo” diferente. Com uma cozinha adaptada para os seus tamanhos, os estudantes produzem os próprios lanches colocando literalmente a mão na massa. Lavam suas próprias louças aprendem a viver em comunidade e a respeitar os mais velhos, já que a Escola Luz do Vale admite crianças a partir dos dois anos de idade.
O método também não possui livros didáticos e são as crianças que produzem seu material, ganhando um caderno em branco no início do ano e preenchendo com as suas impressões no decorrer do período. Registram aquilo que compreendem e criam sua própria visão sobre os assuntos trabalhados. As avaliações também não incluem notas numéricas e os estudantes aprendem de forma sinestésica – os conhecimentos são absorvidos pelo corpo todo, não somente pelos olhos e ouvidos.
Criada na Alemanha pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, a Pedagogia Waldorf é curativa e busca tratar os problemas de forma lúdica, usando a fantasia para criar códigos e educar. A ideia é perceber traumas precocemente e trabalhar para que cheguem aos sete anos bem, ensinando não somente a grade curricular proposta pelo Ministério da Educação (MEC), mas trabalhando a inteligência emocional para enfrentar desafios e resolver conflitos. Historicamente, esse modelo de pedagogia surgiu após a Primeira Guerra Mundial justamente para cumprir a missão de lidar com os traumas dos pequenos. E teve início, curiosamente, em uma empresa de cigarros, que contratou o filósofo para criar uma escola para os filhos de seus funcionários. Daí vem a origem do nome: Waldorf era como se chamava a empresa em questão.
Ampliação e ensino democrático nos planos para o futuro
Hoje a Escola Luz do Vale atende a 13 crianças da pré-escola, cinco delas em período integral. Pela manhã ocorre a programação pedagógica, enquanto à tarde a equipe trabalha com atividades de contra turno escolar. Para 2025, porém, as matrículas estão abertas também para o primeiro ano do ensino fundamental e a ideia é gradativamente absorver todas as séries até o ensino médio. Construída em um terreno doado de quatro mil metros quadrados, espaço tem e a escola promove rifas, eventos e pedágios solidários para dar conta de todas as demandas e investimentos futuros que pretendem fazer.
“Queremos construir novas salas, ampliar nossa estrutura, mas todo o trabalho da associação é voluntário e contamos com a ajuda de pessoas que se identificam com o método”, diz Ana, que conheceu a Pedagogia Waldorf quando lecionava moda para adolescentes e aplicava parte do que aprendeu. “Essa ideia surgiu antes mesmo de ter minha filha e temos o olhar voltado para o futuro. Em nove anos, sonhamos ter todas as séries do fundamental e tornar a escola o mais democrática possível, fornecendo bolsas de estudos para a população”, finaliza.