Memória, concentração, planejamento e tomada de decisões são características que definem um bom jogador de xadrez. Considerado um esporte, o jogo de tabuleiro praticamente não exige de seus competidores força e preparo físico, mas em termos de raciocínio e atenção é um dos mais complexos. Grandes nomes da modalidade afirmam que para vencer você precisa sempre estar adiantado em relação aos seus movimentos, prevendo e imaginando alternativas que possam neutralizar a jogada do adversário. Se para um adulto leigo no assunto esse universo parece complicado, imagine para uma criança de apenas quatro anos.
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Foi nessa idade que Nicole Nunes se encantou por peões, torres, cavalos, bispos, reis e rainhas. Sua inspiração foi o irmão mais velho, Lucas, que na época participava de competições na modalidade e também fez história no esporte. “Eu sempre gostei de ir aos campeonatos e ficar observando, mas nesse tempo gostava mesmo de colocar a medalha no pescoço dele”, diverte-se a garota, hoje com 12 anos de idade e há sete representando a cidade, o clube de xadrez CXJA e o Colégio Evangélico Jaraguá em competições.
Apesar da pouca idade, a garota acumula mais de 200 medalhas e incontáveis troféus a nível municipal, estadual, nacional e sul-americano de uma recente participação compondo em realizado na Argentina, além de uma indicação ao prêmio Gustavo Kuerten de Atleta Revelação no xadrez de Santa Catarina. Mas a conquista mais recente e que enche toda a família de orgulho, no entanto, é o título de Candidata a Mestre Nacional. Nicole explica que na modalidade há uma escalada de níveis que depende de um esquema de pontuação, o chamado rating. Para subir de nível é necessário participar do máximo possível de partidas e, claro, vencer. A pontuação não é fixa e em caso de derrota o adversário pega uma quantidade “X” do perdedor.
Sendo assim, Nicole é taxativa ao explicar como funciona a rotina de quem pretende seguir se destacando no xadrez: muito estudo e disciplina. A garota tem um cronograma diário com os professores do clube de xadrez. Essas aulas são oferecidas gratuitamente pela prefeitura e incluem jogos on-line, exercícios e uma vez na semana, debruçar-se sobre apostilas e livros a respeito do assunto para estudar novas jogadas e estratégias. Tem também as partidas comentadas por grandes nomes relacionados ao esporte e desafios envolvendo movimentos do jogo para o aluno resolver e conferir no final se sua estratégia seria ou não a correta antes de se ver frente a frente com o adversário. “Tem que ter muita vontade de aprender. Se você não correr atrás e viver aquilo, estudando várias linhas e tentando prever os movimentos do adversário, você não vai pra frente”, revela.
Aluna da sétima série do ensino fundamental, Nicole sonha construir uma carreira no xadrez e daqui alguns anos dar aulas na modalidade. Hoje com a possibilidade do ensino on-line as oportunidades cresceram e ela enxerga nesse meio uma boa chance de remuneração, já que, apesar de acumular primeiros lugares, raramente recebe reconhecimento financeiro, ficando essas premiações restritas aos competidores adultos.
Simoni Nundstock Nunes, mãe da garota, conta que muitas vezes é preciso investir dinheiro do próprio bolso na carreira de Nicole. A prefeitura de Jaraguá do Sul contribui com a alimentação e o abrigo dos atletas em competições, mas isso não é o suficiente e ela já precisou declinar da oportunidade de jogar na Índia por conta alto custo da viagem. No entanto, tudo isso vale como experiência e para o futuro. Sem contar que ela admite que sem a ajuda da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer não seria possível estar presente em tantos outros campeonatos. “Não me arrependo de investir em momento algum. O esporte traz muitos valores que estão se perdendo no mundo, como a disciplina, o respeito e o fato de ensinar a conviver e a dividir espaço com outras pessoas nos alojamentos”, reflete. Tal comportamento ela observa nos dois filhos e, apesar de o mais velho ter abandonado as competições por conta da faculdade, os valores permaneceram no seu dia a dia.
Nicole concorda com tudo isso e foca seus esforços rumo à escalada nos campeonatos, frisando a importância de uma competição realizada aqui mesmo em Santa Catarina, o Floripa Open. O evento com duração de uma semana realizado no início de cada ano reúne atletas de diferentes níveis disputando entre si e a participação serve como uma experiência para os grandes duelos. “Enfrentar jogadores que estão acima do nosso nível sempre agrega muito e não deixo de participar”, declara.
Confira algumas conquistas de 2023:
Ouro – Fenac (Festival Nacional da Criança), MG.
Bronze – Fenac (Festival Nacional da Criança), MG.
Ouro – Fecaj (Festival Catarinense), Fraiburgo.
Prata – Floripa Chess Open, Florianópolis.
Ouro – Torneio Alto Vale Blumenau.
Ouro – Campeonato Catarinense Absoluto e Feminino, Rio Negrinho.
Prata – Campeonato Catarinense Fescri, Rio Negrinho.
Ouro – 15º Circuito de Xadrez Rápido Colégio Froebel, São Bento do Sul.
Prata – Aberto de Xadrez de Navegantes.
Ouro – 12º Circuito de Xadrez Rápido Colégio Froebel, Rio Negrinho.
Ouro – Circuito do Rei, Blumenau.
Prata – Festival Catarinense da Juventude (Fecaj).
Ouro – Etapa Microrregional Jesc.