La Niña causa efeitos ‘sem precedentes’

data 26 de agosto de 2024

“É quase sem precedentes no período que observamos, de mais de 40 anos”, contou ao veículo estadunidense Nexstar

A formação do La Niña no Oceano Pacífico, que estava prevista para o mês de agosto, deve atrasar e aparecer somente entre setembro e novembro deste ano. No entanto, o que surpreendeu os cientistas foi o surgimento do fenômeno “sem precedentes” no Atlântico.

A ocorrência é comum no Pacífico, onde causa o resfriamento anormal da superfície das águas. O fenômeno periódico se origina na porção equatorial do oceano e ocorre, no geral, a cada dois ou sete anos.

O pesquisador Franz Philip Tuchen, do CIMAS (Cooperative Institute for Marine and Atmospheric Studies), da Universidade de Miami nos Estados Unidos, destaca que a formação observada este ano no Atlântico foge do padrão.

“É quase sem precedentes no período que observamos, de mais de 40 anos”, contou ao veículo estadunidense Nexstar.

Diferente do La Niña regular no Pacífico, que se repetiu com frequência nos últimos anos, o pesquisador lembra que o surgimento no Atlântico não é registrado há mais de uma década. O último caso foi observado em 2013, durante o verão no Hemisfério Norte.

Cientistas alertam que 2024 pode registrar La Niña “em dobro”

Observações da NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) dos Estados Unidos indicam a possibilidade de um La Niña em dobro para 2024, nos oceanos Pacífico e Atlântico ao mesmo tempo.

Os cientistas estadunidenses notaram uma queda nas temperaturas da superfície do Atlântico desde maio — resfriamento característico do La Niña. Desde o início de junho, os valores na porção equatorial central têm sido 0,5ºC a 1ºC inferiores à média para esta época do ano.

Segundo o pesquisador Franz Philip Tuchen, o resfriamento é mais dramático do que qualquer episódio já observado. Ele destaca que, se as temperaturas da superfície permanecerem nesse nível, o fenômeno no Atlântico será oficialmente confirmado.

Tuchen explica, porém, que o La Niña no Atlântico costuma ter pouca duração e impactos regionais: “tudo é um pouco menor”. Já a ocorrência no Pacífico causa alterações no clima global.

O fenômeno natural substitui o El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal do Oceano Pacífico e responsável por alterações climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul em 2024.

O La Niña, pelo contrário, causa o resfriamento da superfície das águas. As consequências são chuvas intensas no Norte e Nordeste do Brasil, assim como secas no Centro-Oeste e no Sul.

Ambos afetam a distribuição de umidade e calor no planeta, levando a condições extremas de estiagem em algumas regiões e excesso de precipitação em outras.

No Brasil, o impacto La Niña em dobro este ano poderá ser sentido no setor agrícola. É possível que a agricultura das regiões Norte e Nordeste se beneficie com o maior volume de chuvas provocado pelo fenômeno.

As regiões Centro-Oeste e Sul, por outro lado, podem sofrer com a estiagem característica das alterações na temperatura dos oceanos.

O fenômeno já afetou a produção de café no Brasil entre 2021 e 2022. A falta de chuvas no Sudeste causou uma queda de 19% no rendimento da safra, segundo relatório da Hedgepoint Global Markets.

Além do café, as secas ameaçam aumentar o número de queimadas e prejudicar as plantações de cana-de-açúcar no Brasil.

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