Jaraguá do Sul ganha centro de especialização referência em TEA

data 19 de fevereiro de 2024
autor

Crédito: Marcelo Luis

Com unidades em Mato Grosso e no Rio Grande do Sul, Projeto Campi chega à cidade oferecendo tratamento de referência para pacientes com Transtorno do Espectro Autista e outras questões ligadas ao neurodesenvolvimento como TDAH, dislexia e TOD.

Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgadas em 2023 apontam para cerca de dois milhões de brasileiros com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O número corresponde a 10% da população total do Brasil, mas apesar da grande incidência, seu diagnóstico ainda é complexo e envolto em preconceito. Buscando quebrar esse paradigma e oferecer um tratamento de qualidade, o Projeto Campi chega a Jaraguá do Sul com uma equipe multidisciplinar e um método de atendimento que há anos tem sido referência em outros Estados, como Mato Grosso e Rio Grande do Sul – este último inclusive prestando um serviço que é pioneiro no país.
Por trás de tudo isso está o casal Tássia Nunes e Humberto Silva, que há anos atua na área da saúde, seja através de uma distribuidora de medicamentos ou administrando unidades de saúde como hospitais, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Unidades Básicas de Saúde (UBS), Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e, mais recentemente, unidades com foco no atendimento à saúde mental. “Ao todo, somos responsáveis por 53 unidades e voltamos os olhos para a saúde mental no ano de 2011. A partir daí, ideias e oportunidades foram surgindo, até que em 2016 montamos um residencial inclusivo para pessoas adultas que não têm vínculos familiares e fechamos um contrato com o governo do Rio Grande do Sul para prestar serviço de moradia assistida para pessoas com TEA”, relata Tássia. E assim surgia o Campi Residencial Inclusivo, que hoje atende 100 moradores fixos.
Com números crescentes de casos e uma dificuldade/resistência no diagnóstico – e sua posterior aceitação e tratamento –, não demorou para que apostassem também na parte ambulatorial garantindo que mais pessoas tivessem acesso ao tratamento adequado o quanto antes para, no futuro, não precisarem apelar para o conceito de residencial inclusivo. “Tão logo essas crianças são diagnosticadas e tratadas, mais cedo poderão viver sem precisar de suporte ou necessitando de muito pouco suporte”, reflete.
Para isso, uma equipe multidisciplinar foi contratada para atender os casos de Jaraguá do Sul e região numa estrutura ampla, moderna e toda pensada para oferecer o carinho e aconchego que esses casos merecem, assim como já ocorre em Várzea Grande, Cuiabá/MG. No quadro de profissionais, Tássia lista médicos clínicos, psiquiatra, pediatra e neuro pediatra, musicoterapeuta, psicólogo, nutricionista, enfermeiro, pedagogo, fisioterapeuta, educador físico, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagoga, entre outros, e reforça que o processo para se chegar ao diagnóstico não é simples. Afinal, diferente de outras questões relacionadas a saúde e do que algumas pessoas insistem em propagar de forma errônea, não há exame clínico que permita confirmar ou não a existência de um problema de neurodesenvolvimento. Importante frisar também que todos os profissionais recebem treinamento específico e tem em seus currículos o método ABA.
“Não existe uma régua para medir isso e dizer que todos precisam dessa lista de profissionais, mas no Brasil ainda não se tem uma regulamentação clara do que é multidisciplinar. Acima de um já é considerado multi e essa é uma das barreiras para se chegar a um diagnóstico preciso”, reforça ela, falando em algo em torno de oito profissionais para emitir um laudo de confiança e indicar terapias adequadas para cada paciente. Cabe ressaltar que além do Transtorno do Especto Autista (TEA), o Projeto Campi está habilitado para atender casos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dislexia e Transtorno de Oposição Desafiante (TOD) – caracterizado por distúrbios do controle de impulsos e por comportamentos agressivos –, por exemplo.

Um novo conceito em diagnóstico e tratamento
Inaugurado no dia 24 de janeiro, o Projeto Campi atende pacientes a partir de um ano de idade até a fase adulta, mas Tássia reconhece que o público principal é composto por crianças. Estatísticas do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) divulgadas ano passado apontam que uma em cada 36 crianças possuem o TEA nos Estados Unidos. Paralelo a isso, em 2020 o registro era de uma para cada 150 crianças observadas. A pergunta que fica é: o que pode ter levado a esse aumento.
Para a responsável pelo Centro especializado, o acesso facilitado às informações tem feito com que os pais observem mais as atitudes dos filhos e busquem ajuda assim que identificam um padrão de comportamento diferente. Entre os que levantam mais suspeitas e merecem a atenção dos responsáveis estão: dificuldade de contato visual, dificuldade de interação, não atendem quando chamados, dificuldade de controle motor, atraso na fala, comportamentos sensoriais atípicos e apego a objetos. Entretanto, estudos comprovam também que fatores externos para além da facilidade de diagnóstico e investigação podem, sim ser responsáveis pelo aumento na incidência do transtorno, como a idade avançada dos pais, a poluição, fertilização in vitro e até mesmo o uso de alguns medicamentos.
Quanto aos adultos que procuram tratamento, boa parte acaba tendo a curiosidade despertada após os filhos manifestarem o transtorno. “Nos últimos dois anos, eles começaram a se analisar e a procurar ajuda, mas confesso que a abordagem é sempre mais difícil, já que muitos insistem em não aceitar o diagnóstico”, diz. Além do preconceito, outro ponto que ainda impede boa parte da população de receber o tratamento adequado diz respeito às questões financeiras, já que somente uma pequena parcela da sociedade pode pagar por consultas e terapias particulares. “Em muitos Estados essas pessoas ainda são tratadas como invisíveis e os governos não têm interesse em mudar tal cenário devido ao alto custo envolvido”, lamenta.

Parcerias público-privadas em andamento
Dito isso, Humberto salienta que o próximo projeto para Jaraguá do Sul é montar um pronto atendimento na área psicossocial. A ideia é funcionar como se fosse uma UPA 24 horas, mas atendendo exclusivamente saúde mental, com leitos de observação provisória até a destinação para um outro local ou até mesmo para casa, sendo devidamente encaminhado na sequência para tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da rede pública de saúde. “Nesse serviço, eles recebem tratamento de emergência com profissionais especializados, desafogando a rede de UPAs e UBS do município”, explica.
Diferente do projeto realizado na cidade de Porto Alegre, onde os pacientes de fato moram no Campi. Lá, o serviço de alta complexidade é regulado pelo Governo do Estado através de uma parceria. Desse modo, a demanda e os critérios para conseguir uma vaga ficam a cargo do poder público. Mas tratam-se de pessoas que não têm famílias ou vínculos familiares e que necessitam de cuidados constantes. “O maior medo de quem tem um filho hoje que precise de suporte é se perguntar o que será dele no caso de morte da mãe ou do pai. Quem irá cuidar e manter essa pessoa? Há casos em que infelizmente essa é a única alternativa e nessa unidade, especificamente, eles irão encontrar todo esse amparo 24 horas por dia”, conta ele, explicando que no Brasil esse trabalho é pioneiro, mas que não há planos de novas unidades como essa por desinteresse dos mandatários de outros Estados.
Em contrapartida, mais nove clínicas estão sendo construídas pelo país nos mesmos moldes da jaraguaense, reunindo todo o time de profissionais necessário para o tratamento em um único local, evitando o deslocamento e a perda de tempo de quem procura ajuda.

Serviço
O quê: Projeto Campi.
Quando: De segunda a sexta-feira, das sete às 20 horas e, aos sábados, das oito ao meio-dia e das 13 às 17 horas.
Onde: Rua Jacob Buck, 60 – Centro.
Informações e agendamentos: (47) 99614-8000 / @campi_brasil .

Veja também

Desenvolvido por AUIN Tecnologia