O governo federal está avaliando uma proposta que pode transformar o sistema de distribuição do vale-refeição. A ideia em análise, segundo a Folha de S. Paulo, consiste na substituição do tradicional cartão de benefício por um repasse direto aos trabalhadores, via Pix, o que permitiria o pagamento em qualquer banco ou instituição financeira. Essa medida faz parte do debate sobre a regulamentação do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), que visa modernizar o modelo de distribuição dos benefícios.
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Esse movimento ocorre em um contexto de busca pela redução dos custos operacionais, especialmente as taxas cobradas pelas grandes empresas emissoras dos cartões de vale-alimentação e vale-refeição, que atualmente absorvem uma parcela dos recursos destinados ao trabalhador. A reformulação permitiria eliminar a intermediação das empresas, com o objetivo de assegurar que os valores cheguem de forma integral aos beneficiários, sem a retenção por intermediários.
O novo modelo está sendo considerado como uma das alternativas do governo para mitigar os impactos da alta inflação de alimentos, que tem afetado especialmente a população de baixa renda e gerado preocupação no Palácio do Planalto, dado o possível impacto na popularidade do presidente. Ainda de acordo com a reportagem, a medida está sendo discutida por integrantes da equipe econômica como uma forma de garantir que os trabalhadores recebam os benefícios de forma plena.
Em 9 de abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), além do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, no Palácio do Planalto, para avançar nas definições sobre a proposta. Durante o encontro, Haddad destacou que a intenção é lançar uma iniciativa de regulamentação do PAT dentro de 30 dias. “Nós temos que trabalhar internamente aqui para ver se elas [definições] são juridicamente viáveis para, no prazo de mais ou menos 30 dias, termos uma primeira iniciativa de regulamentação do PAT em benefício do trabalhador”, afirmou o ministro.
Contudo, um dos pontos sensíveis da proposta é a preocupação de que o pagamento direto via Pix possa resultar em desvios de finalidade, com os valores sendo usados para outros tipos de despesas que não alimentação, o que geraria resistência dentro do próprio governo. Embora haja quem defenda a liberdade total de destinação dos recursos, há também quem seja contrário à ideia.
O projeto de substituição do modelo de cartões enfrenta forte resistência por parte do setor de vale-refeição e vale-alimentação. A ABBT (Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador), que representa as principais operadoras do setor no Brasil, criticou a medida, afirmando que ela significaria a extinção do PAT, um programa que atende mais de 23 milhões de brasileiros.
A associação argumenta que, ao repassar os valores diretamente aos trabalhadores, o benefício teria natureza salarial, o que acarretaria encargos trabalhistas, previdenciários e fiscais, além de aumentar os custos para as empresas. Isso poderia, segundo a entidade, levar muitas empresas a desistirem de oferecer o benefício.
A ABBT também expressou preocupação com o risco de desvio de finalidade, alertando que pesquisas indicam que, quando o valor é pago em dinheiro, parte dos trabalhadores tende a utilizá-lo para outras despesas, como dívidas ou entretenimento. Em vez de extinguir o PAT, a entidade defende a ampliação do programa, estendendo os incentivos fiscais a micro e pequenas empresas do Simples Nacional.
Além disso, a proposta também encontra oposição de outros setores, como a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). Seu presidente, Paulo Solmucci, considera que, dependendo da regulamentação, a medida poderia ressuscitar práticas como o “rebate”, em que fornecedores oferecem descontos para fechar contratos com as empresas. “O problema é o subsídio e a interferência do Estado. O governo e suas empresas não deveriam subsidiar mais este benefício ao trabalhador, até por razões fiscais”, afirmou Solmucci.
O debate sobre a regulamentação do PAT também inclui discussões sobre a portabilidade e a interoperabilidade dos cartões usados pelas empresas do setor. De acordo com fontes do governo, o Banco Central mantém sua posição contrária a assumir o papel de regulador desse mercado, e há expectativa de que a responsabilidade recaia sobre o Ministério do Trabalho e Emprego.
Fonte: Brasil 247