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Com um cenário de desconfiança sempre rondando a classe política, a participação de pessoas com uma visão diferente e comprometida com resultados gera um efeito contrário, a certeza de que é possível administrar o setor público controlando os números e entregando mais para a população. Essas foram algumas das marcas que o empresário e hoje deputado estadual, Antídio Lunelli deixou na prefeitura de Jaraguá do Sul. O modelo é referência para diversos prefeitos de Santa Catarina que ainda hoje procuram na experiência de Lunelli receitas para alcançarem êxito.
Nos seis anos do seu governo, Jaraguá do Sul registrou recorde de obras e melhorias em todos os setores. Mais do que fazer pontes, pavimentar ruas, inaugurar postos de saúde, creches, escolas e os primeiros parques públicos da cidade, o empresário imprimiu na administração pública a filosofia que desenvolveu em seus mais de 40 anos de vida empresarial. “Gestão pública e privada realmente são diferentes. No público, é tudo mais demorado e burocrático. Mas número é número e resultado é resultado. Então, se você souber administrar os recursos, formar equipe e identificar as prioridades, o caminho fica mais fácil, tanto para quem está comandando uma empresa, quanto para quem está no comando de um governo”, compara.
Conquistando o Índice de Melhor Gestão Municipal e de Cidade com Melhor Desenvolvimento Socioeconômico e Ordem Pública do Brasil – feito repetido por seu sucessor Jair Franzner – Antídio Lunelli dá atenção aos detalhes. Costuma lembrar dos ensinamentos do seu pai, Abílio Lunelli. “Ele sempre dizia que quando o dinheiro é nosso temos que cuidar muito, mas quando não é nosso, temos que cuidar dez vezes mais”. Sobre esses e outros temas, Lunelli conversou com a equipe da Revista Nossa. Confira o que ele tem a dizer:
Simplificar para entregar
“Acredito que um dos segredos é manter sempre o foco nas pessoas e na entrega. Na iniciativa privada, os clientes e na pública, a nossa entrega é a prestação do serviço ao contribuinte. Eu comecei como empresário bem pequeno, passando por todas as dificuldades e todos os entraves possíveis. Tudo o que passei fez com que eu quisesse dar a minha contribuição no setor público para ajudar a mudar um pouco as coisas. É difícil, mas sou teimoso”.
De zero a 20% de investimento
“Quando assumi a prefeitura, sabia que, ou mudava a estrutura da máquina já de cara, ou não conseguiria imprimir meu ritmo. No primeiro mês de governo me dediquei a conhecer os números a fundo. O que na época era difícil, porque a prefeitura não tinha um sistema integrado. Depois das reformas, era hora de enfrentar a burocracia para fazer as obras que há muito tempo eram reivindicadas. E foi o que fizemos. Nós conseguimos ultrapassar 20% de investimento com recurso próprio. Quando assumimos, em 2016, a capacidade era perto de zero. Isso é resultado de uma filosofia de gestão”.
Máquina pesada
“A despesa com pessoal na prefeitura, no fim do meu governo, variava entre 34%, 35%. Quando entrei, 50% do orçamento era para pagar salário e é assim na maioria das cidades até hoje. Eu penso que o ideal é girar perto dos 30%. No nosso ramo, o têxtil, quando chega a 15% a despesa com a folha já acende a luz vermelha. Mas claro que é diferente. Porém, o Estado não pode existir só para pagar salário. Os governos vão criando estruturas insustentáveis, não cobram resultado, vão inchando a máquina e aí vão aumentando cada vez mais os tributos. Quem mais sofre com isso é o operário. Tá errado. Por isso que é preciso no Brasil uma visão mais empresarial, que leve em conta o social na administração pública. Matemática é matemática”.
Público x privado
“No setor público, todos os dias são criados entraves. Dizem que é para evitar a corrupção, mas o que vemos é que não adiantou. O que evitaria bastante a margem para corrupção, porque acabar não vai, é simplificar, ser prático e transparente. Eu me pergunto por que que uma obra no setor público é muito mais caro. Mesmo com todos os processos burocráticos, licitações, tempo de recurso. Tem que passar aqui, passar ali. Um assina, outro confere. Tudo isso demora, a obra ainda sai mais caro e muitas vezes não tem qualidade. O sistema está impregnado. Por que não pode ser diferente? Eu brigo mesmo, não me conformo com isso”.
Justiça na aposentadoria
“Por que que tem que ser diferente no público e no privado? Por que que um colaborador da minha empresa vai se aposentar com o que contribuiu e no setor público é diferente? Quem paga a conta, a diferença entre o que essa pessoa contribuiu e o que vai receber, é o Estado e, se o Estado paga, quem paga somos todos nós. Isso já está mudando, mas ainda precisamos fazer mais reformas ou o futuro será caótico. Nada contra ninguém, mas cada um tem que receber de acordo com o que contribuiu. Isso é justiça”.
A arte de conquistar os críticos
“Campanha política você faz para ganhar a eleição. Depois, pra mim, não tem mais essa questão de partido. Você tem que dar resultado. Essa coisa de perseguição também não faz sentido. Para mim não importa se a pessoa votou em mim ou não. Eu nunca persegui ninguém por esse motivo. Dentro da minha própria empresa tem gente que não concorda comigo politicamente. Tudo bem. Se essa pessoa é comprometida, isso não me interessa. O que eu vou querer fazer, com o tempo e através das minhas ações, é tentar provar que ela estava errada. Isso aconteceu comigo da primeira para a segunda eleição. Muita gente que não votou em mim em 2016 votou em 2020. A liberdade tem que existir e o trabalho é que ajuda a mudar a visão dos críticos”.
Incompetência e corrupção
“Eu acredito que o melhor candidato é o cara que esteve dos dois lados do balcão. Pode ser como empresário, agricultor, trabalhador. Mas a pessoa que produziu, que conhece a realidade fora do setor público, que sabe como é difícil produzir, vender, entregar, trabalhar aqui fora, ter que dar resultado todo mês para garantir o emprego. Essa pessoa tem mais conexão com a maioria da nossa população. Também acredito muito nas pessoas que contribuem com a sua comunidade. A corrupção é um grande mal, mas não tenho dúvida de que a má gestão, a incompetência e a falta de visão em longo prazo também geram enormes prejuízos à sociedade”.
Controle, planejamento e foco
“Gestão é, primeiro, controle do dinheiro. Segundo, analisar onde vai colocar o dinheiro. Gestão é planejar bem. Como os japoneses fazem. Eles perdem 10 meses planejando e depois executam a obra em 60 dias, sem erro. Gestão é foco e, na gestão pública, se você não tiver foco, você não faz nada. Você tem que escutar todo mundo, mas tem que saber o que quer, ou fica perdido. Se você não tiver foco, em poucos dias compromete todo o recurso”.