Em 1998, a Organização Mundial da Saúde (OMS) escolheu o dia 11 de abril como o Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson. A data homenageia o nascimento de James Parkinson, médico britânico que em 1817 descreveu pela primeira vez os sintomas da condição no famoso ensaio “An Essay on the Shaking Palsy”.

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James Parkinson foi um verdadeiro pioneiro. Em uma época com poucos recursos tecnológicos, ele teve a sensibilidade de observar e registrar alterações motoras específicas em alguns de seus pacientes. Os principais sintomas que ele identificou ainda hoje são usados como referência no diagnóstico da doença, como: tremores em repouso; lentidão de movimentos (bradicinesia); rigidez muscular; e alterações na postura e no equilíbrio.
MAS, POR QUE É IMPORTANTE TERMOS UMA DATA ESPECIAL PARA FALAR SOBRE O PARKINSON?
O objetivo de campanhas como essa é aumentar o conhecimento da população, combater o estigma associado aos sintomas, promover o diagnóstico precoce e facilitar o acesso aos tratamentos disponíveis. Afinal, quanto mais cedo se conhece e reconhece a doença, melhor é a resposta às intervenções.

Agora me conta: você já se perguntou em que momento a fonoaudiologia entra nessa história?
A FALA E O ENGOLIR: FUNÇÕES VITAIS QUE MERECEM ATENÇÃO
Você já parou para pensar como seria difícil não conseguir se expressar com clareza ou sentir medo ao engolir um simples gole d’água? Para muitas pessoas com Doença de Parkinson, essa é uma realidade diária.
E é justamente nesse ponto que a fonoaudiologia se torna essencial. Esse campo da saúde, muitas vezes lembrado apenas por tratar dificuldades na fala, tem um papel muito mais amplo e profundo — especialmente quando falamos em doenças neurodegenerativas como o Parkinson.
O QUE É A DOENÇA DE PARKINSON?
A Doença de Parkinson é uma condição neurológica crônica e progressiva que afeta principalmente a capacidade do corpo de controlar os movimentos. Ela ocorre quando há uma degeneração das células cerebrais responsáveis pela produção de dopamina — uma substância essencial para os movimentos, o equilíbrio e a coordenação motora. Com a redução da dopamina, o corpo começa a apresentar uma série de alterações motoras e não motoras já citadas acima. Porém, a doença não se limita a esses sinais físicos visíveis. Muitos pacientes também relatam alterações na fala e na deglutição; dificuldade de escrita; problemas no sono; ansiedade e depressão; constipação intestinal; diminuição do olfato; fadiga; e problemas cognitivos.
A IMPORTÂNCIA DA FONOAUDIOLOGIA NO CUIDADO INTEGRAL
A fonoaudiologia atua diretamente na reabilitação da fala, da voz e da deglutição, áreas frequentemente afetadas pelo Parkinson. Com o avanço da doença, é comum que o paciente fale com voz fraca, monótona ou rouca; tenha dificuldade para articular palavras; engasgue com alimentos ou líquidos; evite falar por vergonha ou frustração; e se isole por não conseguir se comunicar bem.
Esses sintomas não afetam apenas a saúde física, mas também a saúde emocional, o convívio social e a autoestima. E é aqui que o trabalho do fonoaudiólogo faz toda a diferença.
Por meio de exercícios específicos, técnicas terapêuticas e orientações personalizadas, o fonoaudiólogo busca melhorar a intensidade e a clareza da voz; estimular a articulação precisa das palavras; aumentar a segurança e eficiência ao engolir; orientar familiares sobre como apoiar a comunicação; e promover a qualidade de vida e a autonomia do paciente.
TÉCNICAS E TERAPIAS UTILIZADAS
Uma das abordagens mais reconhecidas internacionalmente é o LSVT LOUD® (Lee Silverman Voice Treatment), terapia intensiva voltada para aumentar o volume da voz e melhorar a comunicação funcional. Ela é indicada especialmente para pacientes com Parkinson e tem ótimos resultados comprovados.
Além disso, o fonoaudiólogo pode usar recursos como terapias motoras orais e vocais; treinamento respiratório para fala; eletroestimulação neuromuscular funcional (quando indicado); e avaliações objetivas, como videofluoroscopia ou nasofibroscopia da deglutição.
Cada plano terapêutico é único e deve ser adaptado à realidade do paciente – considerando o estágio da doença, as dificuldades presentes e os objetivos individuais.
E a alimentação?
Um aspecto muitas vezes subestimado é a deglutição. Conforme a doença avança, os músculos responsáveis por engolir também podem perder força e coordenação. Isso pode resultar em engasgos frequentes; sensação de alimento “parado” na garganta; aspiração de líquidos para os pulmões; pneumonias recorrentes; e desnutrição e desidratação.
O acompanhamento fonoaudiológico é essencial para evitar essas complicações. Com orientação adequada, adaptações na dieta e exercícios específicos, é possível garantir uma alimentação mais segura e prazerosa.
O PAPEL DA FAMÍLIA E DOS CUIDADORES
O Parkinson não afeta apenas o paciente – ele transforma também a rotina de toda a família. Por isso, um dos focos da atuação fonoaudiológica é orientar e acolher os cuidadores.
É importante ensinar estratégias que favoreçam a comunicação, como usar frases curtas e objetivas; estimular o paciente a falar devagar e com pausas; manter contato visual durante a conversa; garantir um ambiente calmo e sem ruídos excessivos; e demonstrar paciência e valorização da fala do outro. Pequenas atitudes fazem uma grande diferença no bem-estar de quem convive com a doença.
PARKINSON VAI ALÉM DOS SINTOMAS
A doença de Parkinson não define quem a pessoa é. Cada paciente tem sua história, suas conquistas e seu jeito único de lidar com os desafios. A fonoaudiologia entra nesse processo como uma ferramenta de escuta, de empatia e de reconstrução da identidade.
A fala é mais do que som – ela é expressão de pensamentos, desejos, memórias e afetos. Poder se comunicar com clareza é se manter conectado ao mundo. A deglutição, por sua vez, vai além da nutrição – ela também envolve o prazer de comer, a convivência em família, o afeto partilhado em uma refeição.
O CUIDADO PRECISA SER MULTIDISCIPLINAR
Nenhum profissional de saúde trabalha sozinho quando falamos de Parkinson. O cuidado precisa ser integrado, envolvendo neurologista, para diagnóstico e medicação; fonoaudiólogo, para fala e deglutição; fisioterapeuta, para força e mobilidade; terapeuta ocupacional, para independência nas atividades diárias; psicólogo, para suporte emocional; e nutricionista, para ajustes na dieta. Essa rede de apoio é o que garante mais autonomia, segurança e bem-estar.
Informação é o primeiro passo
Falar sobre Parkinson é falar sobre acolhimento, dignidade e vida. E também sobre esperança, prevenção e cuidado humanizado. A fonoaudiologia não devolve apenas a voz: devolve o prazer de conversar, o direito de se alimentar com segurança e a alegria de se sentir ouvido. Se você conhece alguém com Parkinson, incentive a busca por esse cuidado. O melhor momento para começar é agora.
Para saber mais
Existem diversas associações e campanhas dedicadas ao apoio de pessoas com Parkinson. Procure conhecer entidades como a Associação Brasil Parkinson; Michael J. Fox Foundation; e grupos de apoio locais e on-line.
A informação transforma. O cuidado acolhe. A voz conecta.
E aí, gostaram da nossa conversa?
Beijinhos e até a próxima!
