Em uma conversa com Igor Coelho no podcast ‘Flow’, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, de 88 anos, ex-vice-presidente da Globo, revelou detalhes sobre sua saída da emissora em 1997.
Noticias relacionadas
Diferente do que muitos pensavam, não foi uma decisão consensual.
“Fui ‘saído’. Sempre imaginei que um dia fosse parar, mas nunca imaginei que fosse por decisão dos outros. Pensei que fosse dar o aviso-prévio”, afirmou o executivo, responsável por implementar o alto padrão de qualidade no canal.
Boni disse que, naquele momento, “não tinha razão nenhuma para sair da empresa”. A Globo vivia um período de audiência crescente e recorde de faturamento. Ele afirmou que Roberto Irineu, filho mais velho do fundador Roberto Marinho, “quis ficar com o brinquedinho, é o dono”. Apesar disso, ressaltou que não guarda mágoas. “Gosto dele.”
O executivo lamentou a maneira abrupta como ocorreu seu desligamento e a falta de reconhecimento por sua contribuição na transformação da Globo em uma das maiores redes de TV do mundo.
“Nós éramos felizes e sabíamos. Eu poderia ter saído de outra forma. Merecia, pelo que fiz na TV Globo, pelo que nós todos fizemos lá”, comentou. “Construímos aquela coisa e demos para eles (a família Marinho) de presente. Eu merecia um carinho, um afago. Não precisava ser um jantar de 400 pessoas, mas precisava que passasse a mão na minha cabeça, ou batesse um tapinha nas minhas costas, ‘obrigado’. Mas eu recebi um pontapé na bunda.” E riu após esse desabafo.
Boni sabia da importância de preparar seu sucessor para comandar o artístico e o jornalismo, mas não houve tempo nem candidatos.
“Eu achava que era fundamental sair da TV Globo para ela se renovar. Eu não construí a minha sucessão. Sem modéstia nenhuma, por razões acidentais, não tinha outro Boni.”
O impacto de sua saída foi notável: após sua demissão, a emissora nunca foi a mesma. Apesar das transformações no audiovisual e do surgimento de concorrentes variados, a Globo enfrentou dificuldades para se reinventar. Ainda é líder no Ibope e fatura R$ 15 bilhões por ano, mas perdeu parte da influência, da criatividade e do glamour que marcaram a era Boni.
O ex-todo-poderoso da TV mantém um laço profissional com os Marinhos: desde 2003, ele e seus quatro filhos, incluindo Boninho, diretor do ‘Big Brother Brasil’ e outros programas, são sócios da TV Vanguarda, afiliada da Globo no Vale do Paraíba, interior paulista. Anos atrás, Boni tentou comprar o SBT. Chegou a fechar acordo com Silvio Santos, mas as negociações nunca foram efetivadas.