Na sessão da Câmara de Vereadores da última quinta-feira (22/05), o vereador Jair Pedri (PSD) resolveu abrir o jogo. E que jogo. Em um discurso com direito a constrangimento, fábula, emoção e uma dose de coragem tardia, ele revelou que, na eleição da Mesa Diretora, não votou em quem queria, mas em quem mandaram.

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Segundo o próprio, ele foi “convidado”, por quatro pessoas diferentes, a não votar no então candidato à presidência, vereador Almeida. O time da pressão incluía o prefeito, o vice, o chefe de gabinete e o presidente do partido de Pedri, Alcides Pavanello (PSD). Ou seja, faltou só a vizinha e o cachorro para completar a comitiva.
Pedri, obediente, acatou. Disse não ao pedido do próprio colega na época e sim à vontade do alto escalão. Mas agora, meses depois, resolveu colocar a cabeça no travesseiro (ou talvez de volta no lugar) e admitiu: foi um erro. Disse isso de peito aberto, no microfone, e diante de todos. Um gesto raro — e por isso mesmo, digno de nota. Arrepender-se publicamente de uma decisão política, ainda mais quando essa decisão foi tomada sob pressão, não é exatamente comum por essas bandas.
Mas o ponto alto da fala foi a fábula. Sim, fábula. Pedri resolveu ler “O Rei Está Nu”, aquele clássico de Hans Christian Andersen que fala sobre vaidade, medo coletivo e verdades inconvenientes. Uma história sobre um rei enganado, que desfila pelado achando estar coberto de glória, até que uma criança ousa dizer o óbvio.
O paralelo? Fica para a imaginação do leitor.
Enquanto isso, o tal do Almeida, aquele que não era para receber votos de jeito nenhum, foi eleito com folga: 8 dos 11 votos. E, contrariando as previsões e as preferências do andar de cima, tem conduzido a presidência da Câmara com equilíbrio, pulso e um certo senso de direção, levando a risca a harmonia entre os poderes e de forma independente. Talvez por isso o arrependimento de Jair tenha batido mais forte — quando o trabalho aparece, o remorso costuma vir de carona.
No fim, a sessão nos entregou algo raro: um político admitindo que errou, e outro mostrando que, às vezes, ignorar pressões vale a pena.
Ah, e claro: cuidado com roupas mágicas demais — especialmente as que só os “inteligentes/tolos” conseguem ver.
