Diversão com cheirinho de naftalina

data 20 de dezembro de 2024
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Crédito: Marcelo Luis

Gunter Ramalho – ou Gunter Retrô, como é conhecido nas redes socias – agita há mais de 27 anos aulas de dança com aquele gostinho do passado, da época em que o axé dominava todas as paradas de sucesso do país. Com a energia lá em cima, ao lado dele ninguém fica parado.

Se você curte a onda tiktoker, provavelmente veio ao lugar errado. Gunter Ramalho é daqueles coreógrafos raiz que gosta de ouvir uma música e dar o seu toque particular, fazendo da dança não um espetáculo ou simplesmente uma série de repetições, mas uma diversão acessível a todos os públicos, que há mais de 20 anos frequentam suas aulas em Jaraguá do Sul e fazem dele uma das figuras mais carismáticas no universo das academias de ginástica. Apaixonado pelo axé baiano que dominou as paradas de sucesso no final dos anos 90 e início dos anos 2000, ele não nega que suas aulas têm um cheirinho de naftalina e um toque retrô que ao longo do tempo acabaram se tornando sua marca registrada.  
Natural de Santos/SP, o adolescente Gunter não esperava que tudo aquilo que a vida tem de mais valioso fosse conquistado através da dança. Quando se matriculou no curso de educação física, sonhava trabalhar com futebol, mas logo o destino se encarregou de lhe apresentar outro mundo, que de pronto conquistou seu coração. “Eu estudava com um bailarino e gostava de pagode. Então, um dia ele me convidou para assistir a uma apresentação e naquele momento tive a certeza de que era aquilo que eu queria para a minha vida”, relembra. Vivendo na cidade que serviu de berço para grupos de dança reconhecidos nacionalmente, não foi difícil encontrar bons profissionais que o ajudassem a alcançar seu objetivo.
A profissionalização demorou a chegar. Foram quatro anos focado em estudos e ensaios e várias reprovações em seletivas de dança até que montou seu próprio grupo de lambaeróbica, uma verdadeira febre nacional que os 30+ certamente se recordam com carinho. “Comecei a coreografar, participamos de inúmeros festivais pelo Brasil e me orgulho de ter enxergado a dança além do corpo em um momento em que a mulher vinha sendo exposta em excesso”, reflete. Foi nessa mesma época que se destacou a ponto de ser notado pelo dono de uma academia de Jaraguá do Sul e, no ano de 2004, chegava aqui com um computador e uma mochila nas costas para viver um novo momento profissional.
O começo, como sempre, não foi fácil e ele ri contando que fazia o próprio miojo no chuveiro para aproveitar a água quente. Trabalhar com futebol já tinha deixado de ser um objetivo há tempos e aqui dava aulas de dança, spinning e jump. Trabalha com musculação também, mas não esconde que sua menina dos olhos são as modalidades coletivas. “Brinco que minhas aulas servem para esquecer dos boletos, perder a vergonha e aproveitar! Não precisa conhecer todos os passos, nem ter vergonha. A dança muda as pessoas, ajuda a desinibir e a trabalhar a comunicação corporal”, destaca. Tudo isso, é claro, sem mencionar os benefícios da atividade física em si.
E se no passado ele sofreu preconceito quando começou a dançar, agora ri das pessoas que ainda associam a imagem de professor à homossexualidade. “Até hoje algumas pessoas acham que sou gay, mas dou risada. Antes eu me preocupava com o que o meu pai iria achar. Enquanto os outros garotos faziam gols nos finais de semana, o que meu pai iria contar para os amigos sobre o filho dele?”, questionava. Essa fase durou até os seus 18 anos. Depois disso, parou de se importar, vestiu o boné que até hoje é parte de sua identidade visual e mergulhou numa rotina exaustiva de trabalho que o impedia de dar ouvido para a opinião alheia.
Ano passado veio um novo desafio: o convite para gerenciar a academia Uplay. Sem nunca ter experienciado isso, faz MBA em Gestão Fitness e tirou de letra o desafio. Hoje, porém, diminuiu o ritmo e é responsável somente pela coordenação das aulas coletivas, montando as grades e dando suporte para a equipe e alunos. “Atualmente consigo trabalhar de seis a oito horas diárias e dedicar mais tempo à minha família”, comemora.

Futuro mais tranquilo está nos planos
Aos 44 anos de idade, Gunter admite que o corpo começa a dar sinais de cansaço. Se antes dava inúmeras aulas diárias e abria shows para grandes atrações nacionais, hoje afirma que a recuperação é outra e duas aulas diárias são o seu limite. Casado há dez anos, com duas filhas e um enteado, tornou-se caseiro e seus programas prediletos são churrascos na casa dos amigos e viagens e passeios com a família. “Vivi muito a noite no passado e cansei”.
Já quando a pergunta é como se vê daqui cinco anos, ele demonstra um desejo que deixará triste  sua legião de alunos fiéis: pretende deixar as salas e se dedicar à gerência. Ter a própria academia não está nos planos. Outro projeto é criar um aplicativo com treinos para fazer em casa. “Já fiz um trabalho semelhante no YouTube no passado e tenho muita vontade de contribuir para que as pessoas melhorem seu estilo de vida”, diz.

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