Contar a história de Jaraguá do Sul sem citar a WEG é praticamente impossível. Difícil dissociar o desenvolvimento de uma sem pensar no caminho trilhado pela outra. Assim também é falar de Décio da Silva sem pensar em uma das maiores indústrias do país. Filho do “E” da WEG, ele presidiu a empresa durante 18 anos e hoje comanda o Conselho de Administração.

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“Um sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”. A frase é de Raul Seixas, mas resume bem a história da WEG, uma das maiores empresas do Brasil segundo a Forbes. E não falamos apenas do sonho de Werner Voigt (in memoriam), Eggon João da Silva (in memoriam) e Geraldo Werninghaus (in memoriam), os três fundadores da fábrica de motores elétricos, mas do sonho de toda uma cidade, que cresceu paralela ao desenvolvimento da indústria e ajudou a transformar uma Jaraguá do Sul predominantemente agrária em uma das grandes potências de Santa Catarina ? atualmente é a décima do estado em população e a terceira em economia.
Cinquenta e seis anos após o início das atividades, fazem parte desse sonho mais de 30 mil colaboradores. Metade deles aqui, onde tudo começou, e o restante espalhado em 28 países, dentre os quais, nove contam com parques fabris. Em meio a esse mar de gente, a figura de Décio da Silva emerge com destaque. Filho de Eggon, o “E” da sigla WEG, pisou cedo no chão de fábrica e contribuiu substancialmente com toda essa história de sucesso, além, é claro, de perpetuar até hoje o legado e os valores daqueles que plantaram a semente de ousadia.
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“Eles nunca pensaram em instalar a fábrica em outro lugar, apesar de saberem que aqui seria complicado encontrar profissionais nessa área. No entanto, acredito que esse tenha sido um dos grandes méritos deles, que transformaram as dificuldades em uma alavanca para o sucesso”, salienta Décio, que é prova viva de que a empresa investe nas pessoas e dá oportunidade para quem se dedica de verdade. Ele foi aluno da primeira turma do CentroWEG, a escolinha criada pelos fundadores para moldar os futuros funcionários não só com base na técnica, mas nos ideais da WEG. “Eu tinha 12 anos quando entrei. Era o mais novo da turma e só fui entender a importância dessa oportunidade bem mais tarde”, assume o empresário, que admite: na época só pensava em jogar bola.
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Meio sob pressão no início, Décio acabou se apaixonando pela área e seguiu os estudos na Escola Técnica Tupy, onde se formou técnico em mecânica. A sequência dos estudos revela ainda uma curiosidade. Ao mesmo tempo em que fez curso superior em engenharia mecânica, se dedicou à faculdade de administração. Ele explica: “O Sr. Werner e o Sr. Geraldo eram grandes técnicos e sempre quiseram me encaminhar para esse ambiente de fábrica. Mas meu pai tinha perfil empreendedor e queria que eu seguisse por uma área mais administrativa e de negócios. Como eu sempre gostei de lidar com produtos e clientes, acabei fazendo os dois cursos para agradar os três fundadores”, relembra. A importância dessa decisão também só viria depois, quando aos 33 anos de idade recebeu o convite para ocupar o cargo de presidente da WEG. Emocionado, ele conta que o pai tinha essa mesma idade quando convidou os outros dois sócios para criar a empresa. O desafio era grande e a ansiedade também, mas ele topou o desafio, afinal, Werner, Eggon e Geraldo “abriram as picadas”. A ele cabia apenas continuar o caminho.
“Meu primeiro ano foi de muitas dificuldades. Assumi em 1989, período em que o Brasil passava por uma crise nos campos político e econômico. Foi o único desses 56 anos de história em que a empresa deu prejuízo”, conta. A fase ruim passou e durante a sua gestão o faturamento da empresa cresceu na média de 25% ao ano e o quadro de pessoal aumentou 2,4 vezes, passando de 7.698 para 18.522 colaboradores em 2007. Resultados que são frutos do investimento nas pessoas, do desenvolvimento de equipes e da gestão participativa, valores que nasceram com WEG e que são preservados até hoje.
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Décio gosta de dividir a história da WEG em três grandes ciclos: a década de 70 foi marcada pelo crescimento e pela abertura de capital. Nos anos 80, a diversificação ditou o ritmo de trabalho, com o início da fabricação de tintas, transformadores, entre outros produtos, enquanto os anos 90 e 2000 se destacaram pela expansão internacional não só de filiais, mas de parques fabris. Nesse sentido, ele participou do desenvolvimento de novas tecnologias fora do Brasil, e também foi responsável pelo início do processo de internacionalização da Companhia, com a abertura das primeiras filiais comerciais e fábricas no exterior. Uma experiência que ele descreve como desafiadora. Outro feito que ele teve a oportunidade de participar, foi o lançamento do programa de participação nos lucros, da qual a WEG foi pioneira. Por ironia a divisão de valores passou a vigorar justo no ano em que a empresa levou prejuízo, mas hoje é um sinônimo da gestão participativa que sempre foi proposta pelo trio de fundadores. Em agosto de 2014, a WEG antecipou mais de R$50 milhões, referentes à projeção do lucro, aos colaboradores.
Preocupação crescente com a formação do indivíduo
Quando se fala que não dá para separar a história da WEG do desenvolvimento de Jaraguá do Sul e vice versa, não se fala apenas no aspecto econômico, mas no fato de trazer benefícios para a população como um todo e investir em cidadania. O CentroWEG é um clássico exemplo disso. Trata-se de uma escola técnica profissionalizante, cujo objetivo é formar profissionais para trabalhar na empresa. De acordo com Décio da Silva, o modelo foi trazido da Alemanha após a primeira visita dos três fundadores à Europa e até hoje oferece capacitação para jovens com idade entre 16 e 18 anos. E o que é melhor: ao final do curso o aluno já sai com emprego garantido.
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De 1968 até hoje, mais de três mil colaboradores saíram das salas de aula e muitos deles se dedicaram e cresceram na empresa, vindo a ocupar cargos de liderança. “Hoje oferecemos seis cursos: eletrônica, eletrotécnica, ferramentaria, usinagem, mecânica de manutenção, química e montagem eletromecânica. Temos 284 alunos matriculados e a seleção é criteriosa. Procuramos candidatos que realmente se interessem pela vaga e se enquadrem no perfil da WEG. Uma das exigências é que o estudante tenha notas boas na escola”, frisa Décio.
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O público externo também pode usufruir a educação oferecida pela empresa. O Centro de Treinamento de Clientes, fundado em 2000, contribui para o desenvolvimento técnico e comercial das pessoas através de cursos, visitas, palestras, vendas de sistemas de treinamento e compartilhamento de experiências. Em 14 anos de atuação, 3.500 profissionais já foram treinados.
