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Não é exagero dizer que a história de Celso Luiz Nagel se confunde com a do rádio em Jaraguá do Sul. Apesar de não ter sido o precursor – desde 1948 as ondas do rádio invadem a casa dos ouvintes de toda a região –, a inegável experiência ao longo de 45 anos de atuação faz dele um dos principais nomes da comunicação e referência para os mais jovens e profissionais que desejam ingressar neste meio de comunicação.
Jaraguaense nato, frequentou o seminário durante anos e nunca pensou em seguir carreira na área. Gostava mesmo era de jogar futebol. No entanto, seu crescimento se deu inserido nesse contexto, participando da rádio mirim do seminário e, mais tarde, fazendo a leitura de textos e cantando na igreja. Incentivado pelo Pe. Elemar Scheid, SCJ, fez um teste para trabalhar no rádio sem expectativa nenhuma e o desfecho surpreendeu. “Passei na primeira seleção e na segunda fui contratado. Acabei tendo que aceitar”, diverte-se ele, que viveu todas as fases da era do rádio.
A data da primeira contratação ele tem na ponta da língua: 1º de agosto de 1977. Apresentava um programa noturno que complementava o trabalho como vendedor em outra empresa. Foi assim durante muitos anos, até que ganhou um programa durante o dia e decidiu se dedicar exclusivamente ao meio de comunicação, levando notícias, entretenimento, transmitindo jogos e tocando muita música.
Também viu a evolução tecnológica de perto e admite que ela trouxe inúmeros benefícios. Colocar um programa no ar ficou muito mais fácil, mas o radialista da velha guarda sente falta de alguns aspectos do passado que reforçavam a magia das ondas AM e FM. Um exemplo são as mais de cinco mil cartas de ouvintes recebidas em um único mês. Celso lamenta ainda que hoje as emissoras tenham como foco fazer dinheiro e queiram um vendedor que fale ao invés de um comunicador. “Antes elas se apoiavam no tripé artístico, noticiário e publicitário. Hoje isso mudou e o comercial vem antes do artístico e jornalístico. Outro ponto reside na perda de identidade das rádios. Com a internet, a rádio está no celular, no computador e em qualquer lugar. Isso tira um pouco da identidade local que sempre foi característica desse meio de comunicação”, avalia.
Com a propriedade de quem atuou durante 33 anos na Rádio Jaraguá e foi um dos fundadores da 105 FM e da 99,9 FM – onde permaneceu durante 10 anos como diretor executivo –, ele dá conselhos para quem pensa em apostar na profissão: focar no timbre, na leitura e interpretação. Ser compreensível e checar todas as informações. “É importante fugir da mesmice. Inspirar-se, mas não copiar e transmitir sorrisos e felicidade aos ouvintes”, orienta.
Celso também é cerimonialista, apresentou bailes de debutantes e o concurso de Miss Jaraguá, além de eventos corporativos, grandes shows nacionais e ser presença marcante em todas as edições da Schützenfest. Sobre uma possível volta às ondas do rádio, ele admite que convites não faltam e também não nega a possibilidade, apesar de hoje se dedicar à representação comercial de uma empresa de energia solar. Se ainda iremos ouvir sua voz em alguma frequência, só o tempo irá dizer.
A tecnologia a serviço do radialista
Aos 55 anos de idade e 38 dedicados ao rádio, Joe Junior foi outro que precisou se reinventar inúmeras vezes ao longo da carreira. No entanto, ele enxerga as inovações tecnológicas com bons olhos, afinal, elas vieram para contribuir com o trabalho. “Antigamente tudo era feito manualmente. Existia uma coleção de discos, que precisavam ser constantemente trocados. Depois vieram os CDs e hoje, se quiséssemos, seria possível deixar rolando sozinha toda a programação musical”, comenta. Apesar disso, ele gosta de dar aquele toque pessoal às transmissões.
“A rádio é uma paixão e digo sempre que o radialista é como um porta-voz do dia a dia, o amigão de quem está na frequência”, define. Atualmente comandando as manhãs na programação da Jovem Pan, ele se sente em casa, já que ao longo de toda sua jornada esteve à frente de rádios com o perfil mais jovem. Para buscar tendências e se atualizar, conta com uma ajudinha que vem de casa. Através dos filhos, com idades que vão dos seis aos 33 anos, descobre o que essas gerações estão interessadas em
ouvir.
O contato com os ouvintes também é fundamental e chovem mensagens no WhatsApp com as mais diversas demandas: desde desejar um bom dia até a sugerir pautas, participar de sorteios e fazer pedidos inusitados, que ele busca atender na medida do possível. Para se manter na ativa, segue a receita: “é preciso muita vontade de aprender e buscar conhecimento. Entender que a tecnologia não é uma concorrente e as inovações formam, com o rádio, uma collab constante”, ensina.
E antes mesmo de pensar na postura, dicção e na voz, é preciso comunicar sempre a verdade. De acordo com pesquisas recentes, 85% dos ouvintes busca o rádio por conta da credibilidade e Joe reforça a necessidade de buscar veracidade na instantaneidade. “Há muito se falava que o rádio deixaria de existir, mas tudo isso só ajuda a nos fortalecer. Devemos nos apropriar das novas mídias e seguir sempre fazendo conexões e interações com os ouvintes”, encerra.
Olhar voltado para o futuro
Valério Gorges, há quase 43 anos no ar na Rádio Jaraguá, é bastante objetivo ao avaliar as mudanças ocorridas no decorrer da carreira: “não sinto falta do passado de jeito nenhum”. Taxativo na afirmação, ele conta que a tecnologia foi sendo adotada de forma gradativa e que não teve problemas para se adaptar. O segredo para isso é ter um perfil eclético e usar as novidades a seu favor.
“Nós fomos entendendo melhor como as coisas funcionavam e nos apropriando disso”, conta ele, ao ser perguntado sobre como as rádios lidam com a concorrência com podcasts e outras mídias de comunicação, como a internet e as redes sociais. Aqui, a credibilidade, como já foi dito pelos demais profissionais, ainda é o que pega. De acordo com o radialista, oferecer agilidade na checagem das notícias é o que diferencia o meio, bem como o fato de contar com profissionais qualificados e responsáveis levando informações corretas. Em tempos em que somos inundados por fake news, isso vale ouro.
No ar quatro horas por dia ao vivo, Valério enumera características como a dedicação e o entendimento de como fazer rádio e do que o ouvinte está buscando como fatores essenciais para exercer a profissão. “É observar constantemente o contexto à nossa volta. Não querer ser um astro, mas manter essa proximidade com os ouvintes, trata-los como iguais”, ensina.
Sobre essa relação, ele faz uma ressalva e conta que encarar o vídeo foi uma coisa nova em sua rotina. Segundo ele, para além da voz, os radialistas foram forçados a mostrar também a cara e no início isso causou certa estranheza. Hoje, porém, apenas comemora a carreira exitosa em meio a todas as mudanças com as quais se deparou ao longo das décadas.
A mágica de atuar no rádio
“Ao ligar o microfone, a alegria toma conta”. É assim que Suzana Andrade define sua experiência como radialista. A voz feminina da Studio FM, assim como outros colegas de profissão, cresceu com o rádio sendo parte integrante da rotina familiar. Em sua casa, servia diariamente como despertador e desde muito jovem ela sonhava saber como as coisas funcionavam do outro lado. Não nega que tinha segundas intenções quando foi conhecer a Rádio Educadora, em União da Vitória/PR, mas tomou um grande susto ao ser contratada de imediato para trabalhar. Afinal, tinha somente 17 anos de idade e nenhuma experiência.
No primeiro ano atuou somente como locutora, mas no seguinte já comandava um dos programas de maior audiência em outra emissora – a Rádio Vale –, assumindo também a sonoplastia. Como professor nesse início de carreira, guarda com carinho o nome de Marcio Boiko, que lhe transmitiu muito ensinamentos e reforçou que o carisma e a desenvoltura eram pontos essenciais. Muito mais do que um vozeirão, inclusive.
O que nem todos sabem é que, além de radialista, Suzana também dá aulas de língua portuguesa e foi isso que a trouxe para Jaraguá do Sul. Aliás, ainda atua em salas de aula e divide sua rotina entre as duas paixões. “Vim para cá em 2008 e durante três anos atuei somente nessa área. Quando soube que a Studio estava contratando locutora, no entanto, bateu aquela saudade e estou aqui até hoje”, comemora.
Apesar da experiência prévia, precisou se adaptar às diferenças em comparação com as rádios do interior, mas sua maior dificuldade em meio a todas as inovações é ficar à vontade em vídeos. Com a internet e as redes sociais, essa passou a ser uma demanda e ela confessa que precisa superar a timidez para se “conectar” com o público dessa forma. “Aqui na rádio não sou tímida, sou uma palhaça, mas ligou a câmera eu travo”, diverte-se. O restante ela tira de letra e conclui apontando um dado interessante. “Pesquisas mostram que 80% das pessoas ouvem rádio, ou seja, mesmo com o advento de aplicativos para ouvir música, o rádio permanece firme e forte em seu papel de entretenimento e social, o que é muito importante”, diz, reforçando ainda que a própria Studio está muito presente na internet.