Na atualidade, o conceito de fake news nos remete a sentimentos negativos e interesses escusos. No entanto, uma delas foi pretexto para que Célio Alberto Eisenhut tivesse desperto seu lado solidário e determinado. O adolescente viu em um anúncio que a Souza Cruz doaria uma cadeira de rodas para quem conseguisse juntar 500 embalagens diferentes de cigarro. Como conhecia algumas pessoas que tinham essa necessidade e não possuíam condições de comprar uma, topou o desafio e foi atrás de sua meta. “Cheguei a procurar por embalagens até no lixo”, conta.
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Pouco tempo depois, no entanto, a empresa veio a público e também o visitou em sua casa para desmentir a notícia e dizer que tudo não passou de um grande boato. De todo modo, Célio acabou tomando gosto pela fabulosa cultura e hoje é o maior colecionador de carteiras de cigarro do mundo. Feito que pouca gente sabe no universo jaraguaense, mas que deveria ser motivo de grande orgulho para toda a comunidade, já que o simples hobby tomou proporções enormes, com um acervo de 184.298 marcas de cigarro provenientes de 278 países, muitos deles que sequer existem hoje por conta de guerras e conflitos que alteraram as fronteiras do globo ao longo do tempo e que permanecem vivos na coleção de Célio.
Chegar nesse número é considerado impossível e Célio possui correspondência com colecionadores ao redor do mundo que o ajudaram a seguir com a coleção. Toda a comunicação era por cartas, bem diferente do dinamismo que o digital nos possibilita hoje. “Passei a me comunicar com diversas pessoas que tinham o mesmo interesse e essas correspondências serviam para trocarmos embalagens repetidas e, assim, ampliarmos nossa variedade”, lembra.
Na foto: Célio e seu filho Thiogo Alexandre Eisenhut, durante visita da Souza Cruz.
Era também durante suas viagens que aproveitava para conhecer e adquirir novas marcas. Segundo ele, no exterior isso sempre foi valorizado e o acesso muitas vezes era mais fácil do que às marcas brasileiras. “Já o processo do Guinness não foi fácil. Há uma série de critérios para ser aceito na publicação e um deles é fazer parte de três clubes de colecionadores mundialmente reconhecidos, que fiscalizam toda a verdade”, detalha.
História contada através das embalagens
Ironicamente, Célio Alberto Eisenhut não é fumante. Afirma que não curte o gosto do cigarro, mas também não gosta do preconceito que existe hoje contra o tabaco. Particularmente, conta que nunca sofreu nenhum tipo de julgamento por colecionar esse tipo de produto e lamenta que as pessoas não consigam ver as embalagens como uma parte importante da nossa história. A mais antiga é datada de 1857 e foi produzidas no antigo Império Austro-Húngaro. Mas tem também do Império Otomano, Império Persa… totalizando marcas de nove impérios. Na época, o cigarro era consumido somente dentro de castelos por reis e imperadores.
A coleção está repleta ainda de outras raridades, como embalagens que estampam navios e comandantes da 1ª Guerra Mundial, das forças armadas da 2ª Guerra Mundial, do antigo Egito e até mesmo de grandes celebridades mundiais, como Elvis Presley e Airton Senna. Célio tem enorme cuidado e apreço com todo o seu acervo, mas também tem suas preferidas: as 1.066 embalagens feitas em lata. Reúne aí, como não poderia deixar de ser, outras relíquias, como uma que estampa a coroação da Rainha Elizabeth II, de 1953, a edição comemorativa com o nome de todos os jogadores lançada especialmente após a Copa do Mundo de 1958, na Suécia.
Mais recentemente, a coleção que já era grande teve reforço após a morte de um amigo e também colecionador húngaro da cidade de Kecskemét. “Antes de morrer ele chamou a filha que reside na Austrália para deixar claro o deseja de que sua coleção deveria ficar com o melhor amigo e correspondente mundial”, diz. O trâmite burocrático para trazer as peças para o Brasil é que foi problemático. Inicialmente a carga viria de navio, mas com a ajuda do amigo Rogerio Bollauf conhecedor de todas as necessidades de importação, acabou chegando em solo brasileiro de avião. “Até mesmo a guerra na Ucrânia teve parte nesse atraso, mas felizmente no final deu tudo certo”, comemora, referindo-se à carga de 985 quilos em marcas de cigarros.
Planos de expor no futuro
O trabalho é de formiguinha e Célio ainda se debruça sobre cada embalagem no intuito de separar as repetidas, entre outros cuidados e registros que cada carteira de cigarro merece. Todos os dias ele dedica em torno de seis horas ao trabalho, que fica guardado em sua própria casa em um cômodo separado.
As mais importantes são expostas em prateleiras com vidro e as mais comuns ficam armazenadas em gavetas e dentro de 356 álbuns, todas identificadas com o devido país de origem. Entre as brasileiras, ele reúne o exorbitante número de 23.259 marcas, sendo a maior coleção relacionada à Marlboro, com 13.421 embalagens diferentes e ao Camel, com 5.162 marcas diferentes.
Tudo isso, porém, acaba restrito aos olhos dos amigos e familiares mais íntimos que visitam a residência. “Meu sonho era transformar essa imensa coleção em um museu. Entre todas essas prateleiras há muita história e cultura e gostaria de poder dividir isso com mais pessoas”, destaca. Falta, no entanto, interesse público ou privado em expor a coleção. Em definitivo, a preferência é por Jaraguá do Sul. A cessão dos direitos poderia ser à base de comodato, uma espécie de empréstimo, ou mesmo a venda da coleção. Ao mesmo tempo em que diz nutrir verdadeira paixão por esse universo, não se sente apegado e conta que venderia o acervo se fosse o caso. No entanto, ao ser perguntado sobre o valor que já investiu e que pediria numa situação hipotética, disse ser incalculável.
Encontro reúne apaixonados em Jaraguá do Sul
Encontro Sul-americano de Colecionadores de Marcas de Cigarro reuniu cerca de 60 entusiastas das Américas.
Enquanto esse assunto não é definido, Célio, à sua maneira, tenta ampliar o acesso à sua coleção e promovendo recentemente o Encontro Sul-americano de Colecionadores de Carteiras de Cigarro em Jaraguá do Sul. O evento ocorreu nos dias oito e nove de setembro reunindo colecionadores de destaque de todas as regiões.
O evento foi um sucesso e, além de proporcionar a troca de informações e contatos, ainda hoje tão valiosa nesse meio, oportunizou momentos de lazer e conexão, com direito a jantar e o desejo de repetir o feito nos próximos anos, já que na região não existia, até então, algo do gênero. “Esse evento é realizado três vezes por ano em cidades que são nomeadas pelo clube de controle da Associação dos Colecionadores de Cigarros e Afins (Aceca/SP)”.
Desafio em vista
Célio já enviou ao Guinness nesta oportunidade alguns documentos solicitados, mas o complemento de todo o processo mundial que justifica ser o maior do mundo e se fazer presente no livro leva em torno de dois anos. Tudo isso vale a pena e se justifica pelo fato de Jaraguá do Sul possuir um recordista mundial.
Coleção reúne hoje 184.298 mil marcas diferentes de 278 países.
Da esquerda para direita: Sr. Evan Gongolidis (Hungary), Sr. Célio A. Eisenhut, Sra. Andrea Gongolidis (Hungary) e Sr. Rogerio Bollauf.
Gigarrete Pack Collector
Célio Alberto Eisenhut
Rua Exp. Antônio Carlos Ferreira, 1495 – Vila Lenzi – 89.252-305
JARAGUÁ DO SUL – SC – BRASIL
Fone: 55 47 99200-9606
Email: celioalberto.brasil@gmail.com