Briga entre alunas termina em agressão e jovem ferida nos olhos em Jaraguá do Sul

data 12 de julho de 2023

Mãe alega que filha não foi acolhida. Secretaria de Educação explica os procedimentos em casos de agressão nas escolas

Hematomas pelo corpo, um corte na pálpebra de um dos olhos e a perda temporária da visão. Foi assim que uma adolescente de 14 anos ficou após uma briga com uma colega de escola. A agressão física ocorreu dentro do transporte escolar em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, no fim de junho. Além da agressão, a mãe da jovem denuncia a falta de suporte da escola.

Aluna teve ferimentos no rosto e ficou temporariamente sem visão – Foto: Arquivo Pessoal/ND

Segundo a mãe da menina agredida, a família já tinha conversado com a escola para falar sobre o bullying que a estudante vinha sofrendo. Para ela, o caso não foi resolvido da maneira adequada, o que acabou resultando na agressão. “É uma coisa muito séria. Tenho casos na família que nunca mais se recuperaram psicologicamente”.

Além disso, a mulher alega que a filha não recebeu suporte da monitora do ônibus escolar. “Não prestaram nenhum tipo de socorro. Poderiam acompanhar minha filha até a porta de casa”, desabafou a mãe.

Após a agressão, a família fez um boletim de ocorrência na Polícia Civil, exame de corpo delito e também foi ao Conselho Tutelar. A aluna que cometeu a agressão foi transferida de turno.

A Semed (Secretaria Municipal da Educação) informou que em meados de junho, após a denúncia de bullying, a coordenadora pedagógica teria chamado a filha de Mary para conversar e, em seguida, convocou todos os alunos envolvidos, individualmente, para verificar o que estava acontecendo. Ouvindo os alunos, concluiu-se que todos estes acontecimentos se sucederam a partir dos comentários feitos nas redes sociais das alunas, sem referência nenhuma à escola. Mesmo assim, após a orientação escolar, a violência acabou evoluindo para agressão física. Segundo a Semed, as famílias das duas alunas foram chamadas para conversar. Nesta terça-feira (11) ficou decidido que a estudante que agrediu a vítima mudasse de turno escolar.

Tanto a Semed quanto o Conselho Tutelar relatam que, infelizmente, casos de briga entre alunos é corriqueiro, fazendo parte do dia a dia. “Briga de escola sempre aconteceu, sempre existiu. Não é um fenômeno contemporâneo. O que precisa ter um olhar cuidadoso é o bullying. O pano de fundo desse desentendimento é o bullying”, comenta a conselheira Fabiana Dallagnolo.

“É comum sim as ocorrências referentes agressões físicas entre alunos, mais comum entre os garotos. A adolescência é um período de passagem ou transição, isso inclui novos rituais e formatos de socialização, sendo a chegada de temas como relacionamentos, sexualidade, identidade e as pressões pelas escolhas profissionais que se iniciam no ensino médio”, diz o psicólogo e professor André Veridiano.

Fabiana explica que os xingamentos, chacota, humilhação, se acumulam e os alunos acabam partindo para a agressão. “Talvez pudesse ser evitado. Não existe uma pessoa que se culpa, é um conjunto de coisas. Não é só a escola dizer que não pratique a violência, precisa ser discutido na família e sociedade”, diz.

Para a conselheira, a discussão do bullying vai para muito além do ambiente escolar. A conselheira afirma que a sociedade em geral, muitas vezes, desqualifica o tema colocando essas agressões como algo normal, exagero das vítimas, “mimimi”. Por isso, defende que o debate seja cada vez mais disseminado na escola, nas famílias e na sociedade.

Veridiano explica que essa transformação pode começar nas escolas com, por exemplo, o incentivo de momentos para compartilhar e trocar sobre emoções, sentimentos e saúde mental. “A inteligência emocional pode fazer parte da grade curricular das escolas, possibilitando aos estudantes o conhecimento para lidar com emoções difíceis”, cita.

Em relação ao que acontece após as agressões, o psicólogo diz que, o ideal, é acolher e escutar o adolescente, pois caso o contrário, corre-se o risco da quebra de confiança. “Não é sobre proteger ou amenizar a situação e sim, sobre entender a situação o mais rápido possível. Culpabilizar não promove resultados efetivos, mas responsabilizar sim”, explica.

Segundo o especialista, pais e escolas precisam acolher e escutar agressor e agredido, se abstendo de julgamentos, buscando compreender a origem do conflito e não se eximir de possíveis responsabilizações ao agressor.

“Lembrando que uma situação de agressão pode nos apresentar dois agressores e duas vítimas, assim de maneira técnica é possível se afastar da dualidade bem x mau e compreender as razões da agressão. Responsabilizando quando necessário, mas sempre acolhendo e escutando as partes”, conclui.

ND+

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