Hematomas pelo corpo, um corte na pálpebra de um dos olhos e a perda temporária da visão. Foi assim que uma adolescente de 14 anos ficou após uma briga com uma colega de escola. A agressão física ocorreu dentro do transporte escolar em Jaraguá do Sul, no Norte de Santa Catarina, no fim de junho. Além da agressão, a mãe da jovem denuncia a falta de suporte da escola.
Noticias relacionadas
Segundo a mãe da menina agredida, a família já tinha conversado com a escola para falar sobre o bullying que a estudante vinha sofrendo. Para ela, o caso não foi resolvido da maneira adequada, o que acabou resultando na agressão. “É uma coisa muito séria. Tenho casos na família que nunca mais se recuperaram psicologicamente”.
Além disso, a mulher alega que a filha não recebeu suporte da monitora do ônibus escolar. “Não prestaram nenhum tipo de socorro. Poderiam acompanhar minha filha até a porta de casa”, desabafou a mãe.
Após a agressão, a família fez um boletim de ocorrência na Polícia Civil, exame de corpo delito e também foi ao Conselho Tutelar. A aluna que cometeu a agressão foi transferida de turno.
A Semed (Secretaria Municipal da Educação) informou que em meados de junho, após a denúncia de bullying, a coordenadora pedagógica teria chamado a filha de Mary para conversar e, em seguida, convocou todos os alunos envolvidos, individualmente, para verificar o que estava acontecendo. Ouvindo os alunos, concluiu-se que todos estes acontecimentos se sucederam a partir dos comentários feitos nas redes sociais das alunas, sem referência nenhuma à escola. Mesmo assim, após a orientação escolar, a violência acabou evoluindo para agressão física. Segundo a Semed, as famílias das duas alunas foram chamadas para conversar. Nesta terça-feira (11) ficou decidido que a estudante que agrediu a vítima mudasse de turno escolar.
Tanto a Semed quanto o Conselho Tutelar relatam que, infelizmente, casos de briga entre alunos é corriqueiro, fazendo parte do dia a dia. “Briga de escola sempre aconteceu, sempre existiu. Não é um fenômeno contemporâneo. O que precisa ter um olhar cuidadoso é o bullying. O pano de fundo desse desentendimento é o bullying”, comenta a conselheira Fabiana Dallagnolo.
“É comum sim as ocorrências referentes agressões físicas entre alunos, mais comum entre os garotos. A adolescência é um período de passagem ou transição, isso inclui novos rituais e formatos de socialização, sendo a chegada de temas como relacionamentos, sexualidade, identidade e as pressões pelas escolhas profissionais que se iniciam no ensino médio”, diz o psicólogo e professor André Veridiano.
Fabiana explica que os xingamentos, chacota, humilhação, se acumulam e os alunos acabam partindo para a agressão. “Talvez pudesse ser evitado. Não existe uma pessoa que se culpa, é um conjunto de coisas. Não é só a escola dizer que não pratique a violência, precisa ser discutido na família e sociedade”, diz.
Para a conselheira, a discussão do bullying vai para muito além do ambiente escolar. A conselheira afirma que a sociedade em geral, muitas vezes, desqualifica o tema colocando essas agressões como algo normal, exagero das vítimas, “mimimi”. Por isso, defende que o debate seja cada vez mais disseminado na escola, nas famílias e na sociedade.
Veridiano explica que essa transformação pode começar nas escolas com, por exemplo, o incentivo de momentos para compartilhar e trocar sobre emoções, sentimentos e saúde mental. “A inteligência emocional pode fazer parte da grade curricular das escolas, possibilitando aos estudantes o conhecimento para lidar com emoções difíceis”, cita.
Em relação ao que acontece após as agressões, o psicólogo diz que, o ideal, é acolher e escutar o adolescente, pois caso o contrário, corre-se o risco da quebra de confiança. “Não é sobre proteger ou amenizar a situação e sim, sobre entender a situação o mais rápido possível. Culpabilizar não promove resultados efetivos, mas responsabilizar sim”, explica.
Segundo o especialista, pais e escolas precisam acolher e escutar agressor e agredido, se abstendo de julgamentos, buscando compreender a origem do conflito e não se eximir de possíveis responsabilizações ao agressor.
“Lembrando que uma situação de agressão pode nos apresentar dois agressores e duas vítimas, assim de maneira técnica é possível se afastar da dualidade bem x mau e compreender as razões da agressão. Responsabilizando quando necessário, mas sempre acolhendo e escutando as partes”, conclui.
ND+