Atuando na área há 16 anos, Carla Pitt Vieira é contra dietas restritivas e procura, através de uma abordagem equilibrada, eliminar a crença de que nutricionistas são vilões prontos para eliminar de vez tudo o que você mais ama do cardápio. Há cerca de um ano prestando atendimentos personalizados para adultos e idosos, ela sabe que precisa adotar outros protocolos com esse público a fim de garantir saúde e longevidade. Com a expectativa de vida subindo e o número de idosos crescendo exponencialmente na sociedade, a profissional apostou em um nicho no qual até então poucos profissionais da nutrição haviam investido estudos e esforços.
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“Apesar de já ter atendido em consultório antes, nunca quis focar em emagrecimento. Defendo que os pacientes podem comer de tudo, desde que alguns ajustes sejam feitos visando obter benefícios através da alimentação”, explica. Com pacientes 60+ esse processo pode ser um pouco mais lento, mas Carla refuta a ideia de que eles são resistentes à mudança. “Quando explicamos o porquê de cada decisão, eles costumam aceitar e seguir o plano alimentar, que nada mais é do que ter uma vida normal com mais saúde”, defende.
Mas se a consulta com a nutricionista não possui fins estéticos, por qual motivo as pessoas deveriam buscar esse acompanhamento? Carla explica que normalmente os pacientes vêm encaminhados por médicos geriatras pelos mais diversos motivos e um muito comum é a desnutrição. E não estamos falando de pessoas em vulnerabilidade social, não! Muitas vezes o quadro é desenvolvido sem que o paciente se dê conta por causas variadas. Não tomar água é uma delas. Essa diminuição na sede, segundo a profissional, é normal para a faixa etária mais avançada. No entanto, o corpo continua precisando da mesma forma. A solução é substituir por chás, sucos, água saborizada… até mesmo o bom e velho café com leite pode entrar na conta nessa fase da vida.
Outro desafio diz respeito à ingestão da quantidade necessária de proteínas no dia a dia. “Aqui, muitas vezes o problema está na mastigação, já que muitos idosos utilizam próteses dentárias ou as vezes não as utilizam; na dificuldade de deglutição que também vem com o tempo devido algumas doenças ou fraqueza muscular; e até mesmo no descaso de cozinhar quando moram sozinhos, o que acaba muitas vezes os levando a se alimentar frequentemente com pães e industrializados”, descreve. Se você tem algum desses maus hábitos ou os observa em familiares, talvez seja a hora de buscar uma orientação profissional. Carla frisa que quando se tratam de idosos é importante sempre manter uma “gordurinha a mais”. Afinal, quando eles ficam doentes, apresentam perda significativa de peso e até mesmo um resfriado pode deixá-los extremamente debilitados.
Praticar exercícios físicos é outra dica importante para esse público. Nem que seja se movimentar em casa mesmo. Caminhar ao redor do terreno, cuidar do jardim, fazer alongamentos tudo é válido e não importa a idade para começar. Cursando especialização em atendimento 60+, Carla também adquiriu muita experiência com esse público no período em que foi nutricionista em um hospital. Durante oito anos ela cuidou de adultos e idosos de todas as idades, inclusive acamados, e chegou a trabalhar com pacientes acometidos por Acidente Vascular Cerebral (AVC) e na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dessa forma, lidou com casos em que os paciente não conseguem se alimentar por diversos motivos, sendo realizadas adaptações na alimentação (junto com o serviço de fonoaudiologia) ou sendo necessária a utilização de uma via alternativa de alimentação, como sonda enteral, gastrostomia ou jejunostomia, às vezes temporária ou permanente, infelizmente.
Apesar de ter deixado as funções na unidade de saúde por motivos pessoais – ela queria mais flexibilidade de horário para dedicar um tempo à família –, a profissional da saúde segue se dedicando aos pacientes graves prestando atendimento à domicílio. Esse é outro diferencial e ainda mais personalizado, promovendo qualidade de vida e oferecendo conforto para pacientes com dificuldades temporárias ou permanentes de locomoção.
“A dieta só tá certa quando se torna um hábito! A alimentação precisa ser mais leve, sem radicalismo e sofrimento”.
É importante ainda manter um bom contato com os familiares/cuidadores desses idosos para que o plano alimentar seja de fato seguido e adaptado às mais diferentes realidades, já que nem todo paciente possui condições financeiras de fazer uso de uma suplementação, por exemplo. Então, tudo é estudado com muito cuidado pensando em cada caso e também em conjunto com os demais profissionais que fazem parte do tratamento do idoso. Ela sempre mantém contato direto com os médicos, principalmente os geriatras que lhe encaminham o paciente, e também com os demais profissionais de saúde, como fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogas, terapeutas ocupacionais que eventualmente os acompanhem. “Para melhores resultados, o tratamento precisa ser multidisciplinar. Não vejo o futuro diferente disso, principalmente quando se refere ao público idoso”, diz.
Visando melhorar ainda mais o seu atendimento e se tornar referência na região para esse público, Carla não para de estudar. Pós graduada, ainda fez cursos relacionados a modulação intestinal, interpretação de exames laboratoriais e se prepara para concluir a especialização no seu público alvo, os pacientes 60+. “Hoje me sinto muito realizada por poder melhorar a vida dessas pessoas”, finaliza.