Durante um bom tempo, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Samae ocupou espaço na mídia local. A partir de denúncias de irregularidades na autarquia, um grupo de vereadores votou pela instauração da investigação, que resultou na época no pedido de exoneração do presidente do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto, Ademir Izidoro. O relatório final, no entanto, não conseguiu provar nada contra o antigo gestor, que não foi indiciado ao Ministério Público (MP). “Desde o início tinha certeza desse resultado. Passei quase 10 anos no cargo e ao longo desse período abri 370 ocorrências entre sindicâncias, processos administrativos e até demissões de servidores cujas atitudes não condiziam com a função”, reafirma, dizendo que tudo isso não passou de uma jogada política.
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Segundo ele, tudo teve início com constantes críticas de um parlamentar à qualidade dos serviços prestados pelo Samae. Com as investigações já em andamento, foi apontada uma falha de fiscalização no trabalho prestado pela empresa, que executava serviços de colocação de paver e paralelepípedos. Na época dos fatos, porém, uma investigação interna já havia sido aberta por Izidoro e o resultado foi a suspensão do contrato com a empresa e o afastamento do gestor do contrato e dos fiscais.
Durante os trabalhos de investigação – a CPI tem poder de polícia e pode requisitar documentos de órgãos públicos e empresas, além de convocar pessoas para prestar depoimentos –, segundo a própria Câmara, foram gastos mais de R$ 200 mil, um verdadeiro desperdício de recursos públicos e de tempo. Fora isso, houve abuso de autoridade de alguns vereadores com terceirizados chamados a depor durante as oitivas, além de lamentar a prevaricação de alguns servidores, que revelaram durante as oitivas ter conhecimento de irregularidades que nunca chegaram aos ouvidos de Izidoro. “Sempre trabalhei com muita honestidade e comprometimento, mas era uma equipe grande, com mais de 200 pessoas. É humanamente impossível controlar tudo isso e eu contava com lideranças, coordenadores e diretores, entre os quais o próprio vereador Anderson Kassner, que foi diretor administrativo por três anos e quatro meses. Todos trabalhavam lá para fazer chegar à presidência essas situações”, lamenta, afirmando que as pessoas tinham essa obrigação por serem servidoras com fé pública e ser a atitude correta levar em frente essas questões.
Ele reforça o fato de não constar em seu nome nenhum processo administrativo, no Tribunal de Contas ou nas varas cível e criminal e no Ministério Público. De consciência tranquila e ficha limpa, ele assume um novo desafio. Desde o dia dois de outubro está na diretoria de saneamento da Agência Reguladora de Serviços Públicos de Santa Catarina (Aresc), indicado pelo governador Jorginho Mello e sabatinado por uma comissão especial e plenário da Assembleia Legislativa. Aprovado, agora cabe a ele fiscalizar os serviços de água e esgoto prestados no Estado. A princípio, a agência abrange todos os municípios cujo serviço está sob a responsabilidade da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), além das Parcerias Público-privadas (PPPs).
O desafio é visto por ele com bons olhos e, apesar de ser uma indicação política e de ter história também nessa área na cidade, tendo sido presidente do PP durante 15 anos e atuado em campanhas vitoriosas para a prefeitura na cidade, ele credita o convite aos ótimos resultados entregues pela sua gestão no Samae. Agora viajando por todo o Estado, sua função é trabalhar para que um bom serviço seja entregue à população, além de levar a experiência conquistada por Jaraguá do Sul para outros municípios, que poderão se espelhar e replicar esse exemplo.
“Com a experiência adquirida será possível contribuir e muito com os demais municípios. Afinal, aqui temos uma das melhores marcas de saneamento do país, com 90% do esgoto tratado; além de um dos menores índices de perda de água potável, na marca de 30,7% quando deixei a administração”, complementa. Ainda que esse último número pareça muito elevado, Izidoro garante que o ideal para o país fica na faixa dos 25% e que quando assumiu o Samae o desperdício chegava a 43% de tudo que era captado e tratado.
Mas esse não foi o único bom resultado. Ademir Izidoro se orgulha de ter assumido a autarquia com serviços defasados e ter entregue várias obras seguindo um planejamento de curto, médio e longo prazo, tudo isso alinhado com a equipe para o cumprimento de metas. Entre as conquistas que implementou ao longo de quase uma década, ele salienta a entrega da Estação de Tratamento de Esgoto São Luís e outra no bairro Água Verde, 11 novos reservatórios de água que ampliaram em 29% a capacidade do município, 290 quilômetros de rede de água e outros 250 quilômetros de rede de esgoto, reforma de 77 elevatórias e a construção de 70 novas, um sistema mais moderno de bombeamento, licitação do projeto da nova estação de tratamento de esgoto do Centenário visando atingir 100% de cobertura, além da implantação do sistema de telemetria, tecnologia que avisa quando existe vazamento de água em algum ponto e facilita seu conserto e o consequente desperdício.
Na gestão de Izidoro, a sede da autarquia ganhou cara nova e foi ampliada, e novos programas implantados, entre eles a ampliação do Programa de Educação e Valorização da Água (Proeva), que leva milhares de estudantes até o Samae para conhecer melhor os processos lá realizados; a gestão do Posto de Entrega Voluntária (PEV), no qual as pessoas podem levar objetos e materiais para descarte; projeto de revitalização da mata ciliar com o plantio de 12 mil árvores nas margens do Rio Itapocu; além da retomada do programa Saco Verde, distribuído de graça periodicamente a todos os moradores como forma de incentivar a separação de detritos recicláveis dos comuns. “Essa iniciativa conquistou a população. Desde que o Samae assumiu também a responsabilidade pelos resíduos sólidos, a reciclagem que antes era de 7% passou para 30%”, comemora.
Izidoro assumiu ainda a gestão da drenagem pluvial, outra ação importante foi a aquisição de uma área de 25 mil metros quadrados da antiga fábrica do Wiest, anexa à estrutura do Samae e composta por dois grandes galpões.
Em resumo, Izidoro destaca que entregou resultados e qualidade sempre com muita responsabilidade técnica e pensando no futuro de Jaraguá do Sul. E como forma de encerrar esse ciclo, é taxativo ao afirmar: “Quero que o máximo possível de pessoas conheça esses fatos e o que ocorre nos bastidores da política”, encerra.