
Desde que me conheço por gente, a Rua Jorge Czerniewicz, lá embaixo do Hospital Jaraguá (atualmente o SESC), esconde um segredo que poucos ousam contar. Existia no local o Casarão Mengotti, como era conhecido, que exalava uma aura sombria e imutável, como se o tempo tivesse sido engolido por suas paredes. Um silêncio denso e pesado dominava o ar ao redor, e qualquer um que se aproximasse sentia um arrepio profundo, como se algo dentro da casa estivesse observando e esperando.
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Dizem os antigos moradores da região que, no sótão do casarão, morava um homem peculiar, um afrodescendente, que fora abandonado pela mãe ainda criança, aos 8 anos. Ele nunca desceu daquele andar. Nunca falava com ninguém, nunca saía para a rua, e o único elo que ele parecia ter com o mundo lá fora era o silêncio impenetrável que dominava aquele lugar.

O que mais desconcertava os vizinhos era o fato de ele nunca descer para tomar sol, como se o próprio dia tivesse sido esquecido por ele. Ninguém sabia o que se passava ali em cima, nem como ele se alimentava. Curiosamente, o Casarão Mengotti nunca teve luz nas janelas, e ninguém se atrevia a se aproximar demais ou invadir seu mistério. Aqueles que se aproximavam após o anoitecer sentiam uma sensação inquietante de que estavam sendo observados, mas nenhum olhar ousava ir mais além.
O que mais se comentava entre os moradores era o que ele comia. Rumores sussurravam que ele se alimentava de morcegos e ratos, criaturas que ele caçava nas trevas da noite. Ninguém jamais o viu sair do casarão, mas barulhos estranhos podiam ser ouvidos vindos do sótão: suspiros abafados, o farfalhar de algo se movendo nas sombras, como se ele estivesse se alimentando ali mesmo, nas profundezas da casa, onde a escuridão parecia engolir qualquer vestígio de luz.
Então, uma noite, a luz se acendeu, mas ninguém o viu descer. No entanto, ele desapareceu misteriosamente, deixando o casarão em um estado de silêncio absoluto, como se ele tivesse sido apagado da existência.
O casarão foi encontrado vazio, como em um pesadelo esquecido pelo tempo. O homem havia desaparecido, como uma sombra que se dissipou no ar. Não havia sinais de luta, nem de fuga — apenas o vazio, silencioso e denso. As cortinas ainda se balançavam suavemente, como se ele tivesse acabado de sair, mas o tempo passou e ninguém jamais soubera o que realmente acontecera com ele. O casarão permaneceu imerso no mistério… e no silêncio.
A verdade, no entanto, é que dizem que sua presença ainda ronda o SESC, mesmo depois de tantas décadas. Quem se aproxima à noite, principalmente quem mora na região, jura ouvir barulhos estranhos: o som de algo riscando as paredes, passos abafados, como se alguém estivesse lá em cima, observando de algum lugar oculto, esperando por algo… Mas, ao olhar para as janelas, o que se vê é apenas o vazio e a escuridão eterna do casarão.
A lenda do Casarão Mengotti permanece viva na memória dos antigos moradores. Alguns dizem que o espírito do homem nunca se foi, que ele ainda habita o sótão do Sesc, esperando que alguém, talvez, se atreva a pagar suas contas — ou, quem sabe, a descobrir o que realmente aconteceu.
