Pedágio na contramão da tecnologia
Na minha infância, lembro-me de observar o grande volume da carteira que meu pai e meu avô usavam. Tinha de tudo lá dentro. Talão de cheques, moedas, documentos, de tudo mesmo. Parece que quanto mais volume, melhor. Hoje já é difícil encontrar quem use carteira grande, menos ainda com algum dinheiro dentro. Tudo está digital, você nem precisa mais usar o cartão, basta aproximar o celular da máquina.
Uma pesquisa da Capterra publicada em 2020 mostra que os pagamentos digitais cresceram 32% durante a pandemia do coronavírus. Além disso, com o surgimento do Pix, ficou claro que o plano do Banco Central é acelerar a digitalização do sistema financeiro e inverter o cenário no país. A única coisa que parece não evoluir são os pagamentos de pedágio nas rodovias catarinenses.
Em junho deste ano a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) aprovou por unanimidade o Projeto de Lei 025.0/2019, que dispõe sobre o pagamento da tarifa de pedágio por meio de cartão de débito ou de crédito. A iniciativa já deveria estar em vigor para garantir segurança nos pedágios, trazendo facilidade no pagamento por parte dos usuários. Mas, quatro meses depois, essa ainda não é a realidade que vemos no Estado.
De acordo com o Projeto, a concessionária administradora poderia até determinar quais guichês ofereceriam o sistema de cobrança por meio de cartão, desde que houvesse placas de sinalização para orientação dos motoristas. O pagamento por meio de cartão garante, ainda, a segurança daqueles que trabalham nas praças de pedágio, uma vez que diminui a circulação de dinheiro em espécie no local.
Como presidente da Comissão de Viação e Transportes, a CVT, da Câmara dos Deputados, irei trabalhar fortemente para que essa situação seja definida de uma vez por todas. Não podemos ficar nesta queda de braço. De um lado está a concessionária, que ainda briga na justiça para não ser obrigada a aceitar o pagamento no cartão. Por outro lado, os usuários das rodovias, que precisam de segurança no sistema de cobrança.
Uma coisa é certa: não há mais como fugir e não modernizar esse sistema! A gente já tem o pagamento automático, a tag eletrônica, mas quem não é usuário frequente acaba não utilizando. Temos ainda o agravante da questão sanitária. As notas de papel têm inúmeras bactérias. As moedas, por exemplo, carregam doenças virais que geram diarreia, chegando até gripes e resfriados. Além do mais, é claro que o dinheiro físico não vai sair de circulação tão cedo, mas todos os caminhos apontam para a desmonetização, a extinção gradual do papel-moeda.
Um estudo da ABECS publicado em 2020 mostra que o pagamento por aproximação cresceu 330% durante a pandemia e que 67% dos consumidores pretendem continuar usando o meio de pagamento. Em outubro de 2020, o Banco Central anunciou que o real digital deve estar em circulação em 2022. Elas funcionam da mesma forma que as moedas tradicionais, mas sem a necessidade de impressão do papel-moeda.
Para o Banco Central, a criação da moeda digital deve fortalecer ainda mais os pagamentos digitais, facilitar transferências internacionais e expandindo ainda mais a inclusão financeira por meio dos celulares. Então, porque o sistema de cobrança de pedágio parece ser o único que insiste em permanecer analógico?