Pianista catarinense faz história ao trilhar caminho até a carreira internacional

data 22 de outubro de 2018

Em recente passagem pelo Brasil, o talento revisitou grandes momentos da carreira em entrevista exclusiva

Não surpreende o gosto de Eduardo Boechat pela música. A mãe sempre foi uma apaixonada e o garoto cresceu com um piano na sala da casa. Desde pequeno seu passatempo era tirar algumas notas no instrumento. Gostava de ouvir o som produzido pelo toque nas teclas e os pais, atentos, enxergaram talento naquele hábito despretensioso. “Aos sete anos de idade comecei a fazer aulas de música. Ser pianista era o sonho da minha mãe, então sempre tive muito incentivo”, lembra. Sonhando com a carreira de concertista, aprendeu cedo a ter disciplina e inúmeras vezes precisou abdicar das brincadeiras com os amigos para estudar e estudar. O resultado ele colhe há alguns anos, com uma carreira de sucesso não exatamente tocando concertos, como sonhou no início, mas atuando como pianista em grandes companhias de balé. Após 15 anos trabalhando em Joinville, na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, hoje ele vive uma nova experiência na Alemanha, no Ballet Amm Rhein Dusseldorf Duisburg.

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Trilhar o caminho até a carreira internacional, porém, não foi fácil, mesmo vivendo em um dos grandes centros do Brasil. Assim que terminou o ensino médio, o carioca Eduardo não teve dúvidas ao prestar vestibular para música na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A vocação falava mais alto, mas já nessa época os pais temiam pela saúde financeira do filho. “Eles permitiram que eu cursasse a faculdade, mas a situação cultural no país, com concertos gratuitos sendo prestigiados por um público pequeno assustavam bastante. Não havia grandes perspectivas de ter uma segurança, um salário fixo no mundo da música”, lamenta. A orientação, nesse caso, foi a seguinte: estude música, mas em seguida faça outra faculdade para garantir um futuro. “Meus pais queriam que eu fizesse engenharia”, recorda.

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A primeira chance como pianista surgiu na Escola Maria Oleneva, no Rio. Eduardo aproveitava o intervalo entre as aulas para mergulhar, pela primeira vez no desconhecido universo do balé. Ele conta que a escola ficava próxima à universidade e que ele dava poucas aulas. Aprendeu noções básicas lá, mas assim que se formou acabou encerrando também o ciclo na escola de balé. “Foi nesse momento que pensei em desistir da carreira. Reuni a família e disse que a partir daquele dia abandonaria o piano. É claro que isso gerou uma tristeza especialmente na minha mãe, mas também porque o investimento que eles fizeram nos meus estudos foi alto para a família”, explica.

Festival de Dança 2013

O pianista estava trabalhando em uma empresa na área de informática quando o destino começou a pôr em curso o plano para a retomada da carreira. Um amigo de faculdade ligou dizendo que recebeu proposta para participar de uma audição do Bolshoi no Rio, mas que por motivos pessoais não poderia ir. Eduardo participou completamente descrente da seleção. Chegou cedo para tocar primeiro e poder seguir para seu emprego. “Para a minha surpresa, fui aprovado na mesma hora e encaminhado para o RH da escola. Foi uma reviravolta na minha cabeça. Era a hora de voltar para a música com a segurança de ser assalariado.

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A família se encheu de alegria, Eduardo se mudou para Joinville sem dramas no ano de 2001. Aprendeu com nomes renomados. Teve aula com professores russos e aprendeu também um pouco do idioma. “Tive bons professores na Maria Oleneva, mas posso assegurar que foi no Bolshoi que evolui. Cheguei aqui sem ser capaz de montar nada sozinho e no final estava dando aulas de piano. Me encantei pelo universo da dança e hoje não me imagino mais como um concertista”, afirma.

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Em 2010, os primeiros passos para uma carreira internacional tiveram como padrinho Peter Breuer, na Áustria. Eduardo aproveitava a viagem de férias para conhecer pessoas e escolas, criar amizades e contatos e acabou fazendo alguns trabalhos para esse diretor de companhia austríaca. E foi assim, nessa rotina de networking, que chegou ao Ballet Amm Rhein Dusseldorf Duisburg. Eduardo conta que já pensava em trabalhar fora do país, mas era algo que precisava amadurecer, se preparar e estudar mais. Mas o destino tinha pressa e colocou mais uma “audição surpresa” em seu caminho. “Novamente eu fui descrente e, assim como no Bolshoi, passei na hora”, lembra. O fato é que ele pediu um tempo para pensar e não deu muitas esperanças, o que acarretou na escolha de outro pianista para a vaga.

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As portas da companhia ficaram abertas, o contato foi mantido e meses depois surgiu outra vaga. Agora Eduardo estava preparado e em agosto de 2016 estreava em terras alemãs, onde entra na terceira temporada dentro de algumas semanas. O sorriso e a satisfação de revisitar cada um desses momentos não deixam dúvidas de que tudo valeu a pena. “Sou uma pessoa realizada e no momento não faço planos que não sejam continuar aprendendo e evoluindo”, destaca ele, argumentando que a escola alemã segue uma linha diferente do tradicional Bolshoi, sendo mais voltada para uma linguagem neoclássica contemporânea. “Todos os dias é um aprendizado e hoje digo com segurança que poderia me aposentar aqui. É uma companhia boa, reconhecida. Assim como adoraria também voltar um dia para o Bolshoi”, avalia.

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